
Chimoio, Moçambique, 07 ago (Lusa) - Barato, rápido e com mobilidade em esquinas e ruelas de terra em bairros desordenados, a inovação dos moto-táxis em Chimoio, província de Manica, centro de Moçambique, está a dinamizar o transporte de baixo custo num país em crise.
Um simples assobio na rua ou um par de passos para uma praceta, ou ainda um rápido telefonema são suficientes para os BMW, Ranger Rover, Hummer ou Chevrolet - como os motoristas chamam às suas motos para sinalizar gamas altas associadas às quatro rodas - levarem os passageiros a horas à escola, ao trabalho, ao hospital, às compras ou a um encontro de namorados.
"Já estamos a operar quase há um ano, mas as pessoas começaram a habituar-se mais aos táxi-moto este ano e os clientes aumentam exponencialmente a cada dia", conta à Lusa Viegas Viola, um operador deste tipo de transporte, que considera o meio mais atrativo pelos baixos custos.
O preço de uma viagem começa nos 20 meticais (26 cêntimos de euro) e os clientes são disputados por mais de 250 motociclistas que circulam na cidade, sobretudo nos terminais de autocarros, vestindo coletes refletores como símbolos dos seus táxis.
Os moto-táxis, as "badjadjas", como são localmente conhecidos devido ao roncar dos motores, já imperam na capital da província de Manica, cobrindo o défice de "chapas" - as famigeradas carrinhas de transporte de passageiros - que circulam em todas as cidades do país e assumindo-se como alternativa ao alto custo dos táxis tradicionais.
"O moto-táxi é barato e pode entrar em muitos bairros onde não chegam 'chapas'. Outras zonas não têm estradas para os carros passarem e uma moto pode levar um passageiro pelos caminhos mesmo até ao quintal", diz à Lusa Jeca Ângelo, outro operador, salientando que também à noite estes veículos "têm sido uma grande ajuda para levar pessoas ao destino quando já não há 'chapas' a circular".
"O moto-táxi custa três ou quatro vezes menos que um táxi tradicional, o que veio mesmo ajudar as pessoas", enfatiza Odete Julieta, uma cliente, sentada no banco de trás da "badjadja" com destino ao bairro de Chissui.
Com cerca de 350 mil habitantes, Chimoio, que já ostentou o título de cidade mais limpa de Moçambique, enfrenta um problema de desordenamento territorial, além da acentuada degradação das estradas asfaltadas e terraplanadas que fazem as ligações entre os bairros, o que dificulta a circulação de 'chapas' e de outras viaturas.
Parte da economia vive impulsionada pela atividade informal, incluindo os moto-táxi, numa cidade onde são escassos os empregos e todas as semanas vagas de mendigos vão de loja em loja em busca da caridade dos comerciantes muçulmanos.
Ao redor da cidade, o negócio dos moto-táxis arrastou outros setores e várias oficinas de reparação de motos têm sido o sustento de numerosas famílias.
A porta-voz do comando da Polícia de Manica, Elcídia Filipe, reconhece que a inovação dos moto-táxis em Chimoio veio aliviar os problemas de transporte, mas também impor novos desafios.
"Temos que admitir que, apesar de ser uma inovação bem-vinda, carrega algumas dificuldades, como a não-preparação dos motociclistas", refere Elcídia Filipe, acrescentando que muitos não observam as medidas de segurança e vários já estiveram envolvidos em acidentes de viação.
Entretanto, este serviço trouxe também um novo tipo de criminalidade, como o espancamento e assassínio de motociclistas para lhes roubar as motos ou dinheiro.
Segundo Wilson Scote, um representante do grupo dos moto-taxistas, pelo menos oito motoristas foram espancados e assassinados desde o início das atividades.
"Este problema torna inseguro trabalhar à noite, quando os clientes estão mais necessitados em usar os nossos serviços para chegarem rápido a casa", observa Wilson Scote, que apela à polícia para fazer rusgas noturnas nos bairros mais problemáticos.
Em todos os casos de morte dos motociclistas, os assassinos fizeram-se passar por clientes, e ao, chegarem ao destino, cometeram os crimes.
Elcídia Filipe diz que o problema é conhecido e que "a Polícia tem estado a trabalhar para que eles [motoristas] não sejam alvos dos criminosos".
AYAC // JMR
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