
Um dos fatores que contribui de forma determinante para o sucesso das nações e crescimento das economias é a confiança. Um sueco ou um dinamarquês, de um modo geral, confia muito mais no seu sistema político do que um brasileiro ou um colombiano, por exemplo. O cidadão de uma nação com níveis de desenvolvimento elevados tende a confiar em que as decisões comuns são tomadas com base em regras transparentes, confiam no estado de direito e nas instituições judiciais. Ao contrário, aqueles que vivem em países menos desenvolvidos normalmente desconfiam de entidades abstratas, preferindo refugiar-se na solidariedade familiar ou na discricionariedade das decisões. É verdade que esta é uma daquelas ideias em que não se distingue o que é a causa ou a consequência. Se são as pessoas que confiam porque o país funciona ou se é o país que funciona porque as pessoas confiam. Mas, isso não é muito importante, o que se destaca é que há uma correlação positiva entre confiança e crescimento.
Este conceito de confiança também se aplica aos mercados financeiros. Existe a ideia da confiança no bom funcionamento do mercado bolsista e essa varia, em maior ou menor escala, consoante os mercados onde se atua. O mercado de capitais norte-americano, por exemplo, é conhecido por ser muito robusto e líquido. É por isso natural que as pessoas apliquem o seu dinheiro em mercados nos quais confiam. Mercados com regras transparentes e explicitas, em que quem prevarica é rapidamente sancionado. Dai o sucesso de umas praças em detrimento de outras.
Mas depois, há um outro nível de confiança. A confiança de que o mercado vai seguir numa ou noutra direção e isso já não se refere à confiança no sistema, mas à confiança nas nossas perceções. O facto de acreditarmos que a realidade se vai comportar de determinada maneira define, em parte, a sua direção.
Vejamos a situação em que estamos atualmente: desde que os republicanos ganharam as eleições, os mercados bolsistas norte-americanos têm crescido linearmente. Seguem com total confiança, como quase sempre que os republicanos estão no poder, apesar de que a única certeza que temos é que não há confiança nenhuma em nada. Ninguém sabe como vamos terminar 2025 em termos geopolíticos ou económicos. Então, como caraterizar esta confiança? É feita do mesmo material? Ou é apenas um sub-produto da confiança, uma crença, uma fezada?
Aliás, vejamos, bastou um sopro na perceção dos investidores – esta semana assistimos à apresentação do DeepSeek chinês, para tudo vacilar. Num só dia, a NVIDIA, empresa de chips que capitalizava sobre a ideia do crescimento da tecnologia IA norte-americana e que crescia em grande ritmo há mais de um ano, perdeu 600 mil milhões de dólares de capitalização bolsista – a maior perda de sempre num só dia. Lá se foi a confiança…
Vem isto também a propósito das criptomoedas e das discussões a que temos assistido entre defensores de investimentos em cripto e os seus detratores. Normalmente entre banqueiros tradicionais e não tradicionais. Há uns tempos, contaram-me sobre um jovem casal que foi para Las Palmas garimpar criptomoedas. Parece que lá a energia é mais barata, logo conseguem extrair mais moedas – atividade que necessita de grande poder de computação e energia – e a um menor custo. Ora bem, e o que distingue um investidor em criptomoedas, garimpadas por este casal num computador gigante em Las Palmas, de um investidor em ações de empresas de tecnologia norte-americanas?
Alguns diriam que pouco os distingue. Afinal de contas, o valor do colateral parece sempre intangível… é tudo tão volátil. No fundo, parece que confiam apenas em coisas diferentes. Ambas, aliás, igualmente sujeitas a drásticas perdas de confiança. Será mesmo assim?