As últimas semanas têm sido marcadas pela apresentação de resultados trimestrais das instituições de crédito e há um elemento comum em quase todas: a contração da margem financeira. Este não é um dado inesperado. A tendência de redução das taxas de juro pelo Banco Central Europeu já denunciava este acontecimento, que os próprios bancos estimavam já no final de 2024. Entre os maiores bancos portugueses, apenas o Millennium BCP escapou a isto com um ligeiro aumento anual da sua margem, em 3,6%, para 721,1 milhões de euros. O maior banco privado do país explica que esta manutenção da margem “decorreu do desempenho da atividade internacional, cujo impacto foi parcialmente absorvido pela redução a que se assistiu na atividade em Portugal”.

Do lado oposto, temos o Santander Portugal, que caiu 19,6% neste parâmetro para um total de 354,2 milhões. A seguir ao Santander vem a Caixa Geral de Depósitos (CGD), cuja margem teve uma queda de 11,2%. De forma notável, mas não tão acentuada, surgem o BPI e o Novo Banco, com perdas de margem na ordem dos 9% e 6,7%, respetivamente.

Lucros estáveis com Moçambique a afetar resultados de três bancos

Os maiores bancos do país tiveram um lucro total de 1,29 mil milhões de euros entre janeiro e março, sendo que apenas BCP e BPI conseguiram incrementar o seu resultado líquido face ao ano anterior. No caso do BPI, o lucro deve-se ao pagamento do BFA, banco angolano onde o BPI tem uma participação. Sem este acréscimo, o banco detido pelo CaixaBank teria alcançado um resultado de 91 milhões, resultado dos 98 milhões de lucro em Portugal e o prejuízo de 7 milhões na atividade em Moçambique. Note-se que o BCP também registou um impacto negativo no seu negócio em Moçambique, com o Millennium bim a ter uma queda superior a 84% no seu resultado, mas ficando em terreno positivo.

Entre os restantes concorrentes, a CGD foi a que se manteve mais estável, com uma perda de apenas 0,5% do seu lucro, fixando-se em 393 milhões. O banco do Estado também viu o seu resultado prejudicado pelo negócio moçambicano, que exigiu mais provisões e imparidades, tal como aos rivais, levando a menos 12,9 milhões de lucro do que em março de 2024.

O Santander registou um lucro de 268,8 milhões, 8,7% a menos do que no período homólogo. Já o Novo Banco conseguiu atenuar as perdas, caindo apenas 1,9% no lucro para 177,2 milhões. O banco liderado por Mark Bourke conseguiu uma manutenção do produto bancário nestes três meses, apresentando um aumento de 0,4%, num total de 373,2 milhões.

Eficiência e solvabilidade deterioradas, mas ainda em níveis exemplares

Os rácios de eficiência da banca portuguesa destacam-se no meio dos pares europeus como exemplares, estando todos abaixo de 40%. As instituições bancárias tiveram subidas de custos, como seria de esperar, mas, com as receitas prejudicadas pelas razões já explicadas, os seus rácios de eficiência, em geral, deterioram-se, ainda que não de forma acentuada.

Onde as despesas mais dispararam foi no BCP. O único banco português cotado em bolsa teve mais 10,4% de custos neste primeiro trimestre. O seu rácio de eficiência teve uma agravante de dois pontos percentuais (pp) para 37,4%. Este aumento da despesa verificou-se devido ao aumento de custos com pessoal, administrativos e amortizações e depreciações, segundo avança o BCP. Os gastos com pessoal foram os que tiveram o aumento “mais expressivo” em todo o grupo, acrescenta. De seguida aparece o Novo Banco, onde as contas a pagar tiveram um incremento de 5,3% e o rácio de eficiência subiu de 32% para 33,6%. Com um aumento de 3%, as despesas da CGD elevaram o rácio de eficiência de 32,6% para 37,3%.

Já o Santander e o BPI conseguiram o maior controlo de custos, com subidas de 1% apenas. Ainda assim, o Santander não escapou à deterioração da eficiência do negócio, com o rácio a subir 4,2 pp para 26,9%. O BPI foi a exceção, que manteve este indicador em 37%, tal como no ano anterior.

A solvabilidade dos bancos é um indicador que capta atenção, especialmente numa altura de incerteza dos mercados e do contexto geopolítico, algo que, aliás, vários CEO referiram na apresentação dos seus respetivos resultados. Neste campo, os bancos portugueses mantêm-se resilientes, estando acima dos mínimos requeridos pelos reguladores.

Olhando para o rácio CET1 destas entidades, o líder é a Caixa, que conseguiu aumentar este indicador em 0,4 pp desde o ano passado, totalizando agora 20,7%. Seguem-se o Novo Banco, com 16%, o BCP a registar 15,9%, o Santander com 14,2% e, por fim, o BPI tem um rácio de 13,9%. Tirando a CGD e o Santander, todos os restantes bancos caíram neste indicador, ainda que ligeiramente, como foi o caso do Millennium, que baixou apenas 0,1 pp. O Novo Banco foi o que teve a maior quebra, de 3 pp.

Os bancos continuam o seu processo de baixar os ativos que prejudicam a qualidade ou que têm exposição a maior risco. Neste campo, o trajeto é bastante similar. A única instituição que apresentou um rácio NPE maior foi a CGD, que teve uma subida de 1,25% para 1,45%, justificado pela situação de Moçambique, segundo a instituição. Ainda assim, o rácio da Caixa está em níveis semelhantes ou melhores do que os concorrentes.

Nos restantes, a tendência é positiva. O BCP apresenta um rácio NPE de 3%, abaixo dos 3,4% um ano antes. Tanto o Santander como o BPI conseguiram reduzir este indicador em 0,3 pp para 1,5% e 1,3%, respetivamente. O Novo Banco não indica valores para o rácio NPE. No entanto, o rácio NPL, também relativo à qualidade do crédito, baixou 1,1 pp para 3,2%.