As duas maiores economias do mundo enfrentam já uma prolongada guerra comercial, que inclui a imposição de taxas alfandegárias sobre centenas de milhares de milhões de dólares das exportações de ambos.

Mas a pressão do Governo norte-americano sobre as empresas para boicotarem entidades chinesas específicas tornou-se um esforço concertado para forçar fornecedores e países terceiros a aderirem a um bloqueio à tecnologia chinesa.

No espaço de pouco mais de um ano, Washington reviu por três vezes as suas regras de controlo sobre as exportações para o grupo chinês das telecomunicações Huawei, afetando fornecedores da empresa chinesa em todo o mundo.

Nos últimos dois anos, a administração de Donald Trump colocou outras 70 empresas chinesas na Lista de Entidades do Departamento de Comércio, limitando o seu acesso a tecnologia norte-americana.

"Washington transformou as cadeias de fornecimento de tecnologia numa arma [contra a China], por exemplo, em semicondutores, visando conter as ambições tecnológicas" do país asiático, observou Alex Capri, investigador da Fundação Hinrich, com sede em Singapura.

Os EUA têm como objetivo "conter o modelo tecno autoritário de Pequim", apontou.

Num périplo realizado no início deste mês pela Europa, que incluiu Portugal, o subsecretário de Estado norte-americano Keith Krach voltou a pressionar os países aliados a aderirem à 'rede limpa' (clean network), ou seja, a excluírem fornecedores chineses das suas redes de telecomunicações de quinta geração, particularmente a Huawei.

Em resposta às crescentes tensões entre os dois países, multinacionais como a Apple ou a Google estão rapidamente a deslocar a sua produção e negócios da China para o Vietname, Índia, Tailândia e Malásia.

Segundo observadores, nos últimos 36 meses, o setor tecnológico registou uma deslocação inédita em quase três décadas.

Cerca de 2.000 empresas de Taiwan, Japão ou Coreia do Sul, - incluindo muitos fornecedores importantes de tecnologia - indicaram planos para retirar produção da China, de acordo com dados oficiais.

Empresas de tecnologia, especialmente fornecedores de marcas norte-americanas como a Apple, pretendem transferir entre 15% e 30% da sua produção total para fora do país asiático, uma parcela equivalente às suas vendas nos EUA, segundo o portal japonês Nikkei Asia.

A Apple começou já a produzir os AirPods sem fio no Vietname, no início do ano, e planeia deslocar mais da sua produção para aquele país. Até ao ano passado, toda a produção da marca era feita na China.

A gigante tecnológica tem também apelado à Foxconn e Wistron, os principais fabricantes do Iphone, para expandirem a capacidade na Índia.

A produção de servidores para centros de dados do Google, Amazon e Facebook, que até há dois anos eram todos feitos na China, passaram a ser produzidos em Taiwan.

"As crescentes tensões entre Washington e Pequim forçaram a pensar em estratégias de produção", afirmou um executivo de um dos fornecedores do iPhone, citado pelo Nikkei Asia.

"Nos próximos dois a três anos, veremos não apenas as grandes fabricantes de eletrónicos, mas também mais e mais fornecedores de componentes a mudar a sua capacidade para fora da China, para formar uma nova cadeia de abastecimento", previu.

JPI // FPA

Lusa/Fim