De acordo com o documento, a Sociedade Cabo-verdiana de Sabões (SCS), cuja fábrica opera na ilha de São Vicente, norte do arquipélago, desde 1990, até viu as vendas aumentarem 7,4% em 2019, face ao ano anterior, para praticamente 59 milhões de escudos (530 mil euros).

A SCS produziu em 2019 quase 405 toneladas de sabão em barra e mais de 76 mil litros de detergente, mas a administração admite que a atividade produtiva "foi afetada pelas dificuldades no transporte dos produtos acabados para o mercado da zona sul do país", nomeadamente a ilha de Santiago, que concentra os principais clientes.

"A situação financeira da empresa já esteve melhor, sobretudo no período compreendido entre os anos 2012 e 2016. Porém, nos últimos exercícios, o resultado líquido tem sido negativo, e provocou inversão no crescimento, ainda que lento, da empresa", refere a administração, no relatório e contas, que também reconhece que a tesouraria da fábrica estatal, com 18 trabalhadores, enfrentou em 2019 "algumas dificuldades"

Depois de um pico de mais de 7,1 milhões de escudos de lucros (64 mil euros) em 2013, desde 2017 que a fábrica apresenta prejuízos, apesar de uma melhoria 18,5% de 2018 para 2019, ano que terminou com um resultado líquido negativo de 2,6 milhões de escudos (23.400 euros).

O desempenho de 2019 é justificado pela administração com o investimento numa nova máquina de produção e com processos judiciais, entre outras dificuldades.

A administração reconhece ainda que a "elevada concorrência e o aumento de distribuidores no mercado da zona sul", essencialmente na Praia, de produtos de origem nacional e importados, "foram fatores que prejudicaram o escoamento dos produtos da SCS nesse mercado".

Em 2019, a fábrica enfrentou ainda a "fraca disponibilidade" de matéria-prima para a sua atividade, a hipoteca do património devido a um processo judicial e tentou "sem sucesso" obter um aval estatal para financiamento, estando em curso o "processo de alienação" da fábrica pela Unidade de Acompanhamento do Setor Empresarial do Estado (UASE).

Em processo de venda, a administração da emblemática fábrica de sabão cabo-verdiana assume a "necessidade de a empresa vender mais e melhor".

O Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, visitou em 2018 aquela fábrica -- a primeira visita do género de um chefe de Estado -- e no passado fim de semana anunciou que promulgou "numa segunda versão" o decreto-lei que aprova o processo de alienação do capital social da SCS.

Com um capital social de 73.120.000 escudos (656 mil euros), a SCS tem o Estado cabo-verdiano como o principal credor da empresa, sobretudo no pagamento de IVA, numa dívida total que ascendia a mais de 23,7 milhões de escudos (213 mil euros) no final de 2019.

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