
"É importante que o consumidor tenha a noção que não estamos numa situação de normalidade e é preciso que isso seja sinalizado em termos de consumo, não podemos continuar a consumir de forma normal como se não está a acontecer nada", alertou o diretor da Indústria, Comércio e Energia de Cabo Verde, Rito Évora.
O responsável falava, na cidade da Praia, em conferência de imprensa conjunta com outros membros da Comissão de Acompanhamento da Crise Energética Mundial no país para explicar os novos preços de combustíveis.
Conforme atualização feita domingo pela Agência Reguladora Multissetorial da Economia (ARME), o preço da gasolina e do gasóleo em Cabo Verde aumentou quase 9%, mantendo-se apenas a tarifa do gás butano inalterada.
Em comunicado, a ARME refere que a atualização dos preços máximos dos combustíveis em Cabo Verde -- que é feita todos os meses -- volta a levar em conta, tal como em abril, a suspensão temporária do mecanismo de fixação de preços dos combustíveis, decidida pelo Governo face à crise económica provocada pela guerra na Ucrânia.
Na conferência de imprensa, os membros da comissão esclareceram que se não fosse a suspensão temporária do mecanismo de fixação de preços, por três meses, o aumento médio de todos os combustíveis seria de 16,1% em maio, muito acima dos atuais 5%.
Para o diretor cabo-verdiano, perante a "situação complexa" que o mundo e o país está a atravessar, "o esforço tem que ser partilhado por toda a sociedade".
E sublinhou que a medida governamental de suspender temporariamente o mecanismo de fixação dos preços visa garantir "algum equilíbrio", repassando gradualmente os custos ao consumidor, para que o preço final reflita menos os aumentos exponenciais.
Outra parte, disse, está a ser suportado pelo tesouro do Estado, até agora em cerca de 200 milhões de escudos (1,8 milhões de euros).
Por disso, disse que o Governo vai gerir a situação "mês a mês", esperando uma melhoria a nível internacional nos próximos meses em termos de oferta de produtos.
"Se não houver o mecanismo da compensação da regulação, o impacto seria brutal", afirmou, por sua vez, Gustavo Moreira, do Ministério das Finanças, alertando para o cenário de "incerteza" no mercado.
Já Carlos Ramos, engenheiro da ARME, explicou que a gasolina foi o combustível que manteve o preço do mercado, devido ao câmbio, garantindo que no próximo mês, havendo uma descida do valor, haverá automaticamente uma descida do preço da gasolina.
De acordo com a nova tabela de preços máximos, que vai vigorar até 31 de maio, o litro de gasóleo normal passou a ser vendido em Cabo Verde a 146,10 escudos (1,32 euro), um aumento de 8,6%, o de gasolina a 181,60 escudos (1,64 euro), subida de 8,7%, o de petróleo a 128,40 escudos (1,16 euro), mais 8,7%, e o de gasóleo marinha a 110,20 escudos (um euro), aumento de 9,2%.
O gasóleo para eletricidade aumentou 2%, para 115,00 escudos (1,04 euro) por litro, permanecendo inalterado o de gás butano, que continua a ser vendido entre os 505 escudos e os 9.739 escudos (4,6 a 88 euros), para as garrafas de três a 55 quilogramas, tal como aconteceu em abril.
Para conter a escalada de preços nos combustíveis, o Governo cabo-verdiano fixou em abril um teto máximo de 5% para o aumento da gasolina e do gasóleo.
"O Governo de Cabo Verde declara a suspensão temporária, durante três meses, de abril a junho, da aplicação de mecanismos de fixação de preços dos combustíveis", anunciou no final de março o ministro da Energia, Alexandre Monteiro.
Destacando a "conjuntura turbulenta" que se vive, o ministro avançou que a manutenção de preços dos combustíveis por intervenção do Estado representa um "impacto global" estimado em 400 milhões de escudos (3,6 milhões de euros), o que "exige esforços avultados".
O arquipélago enfrenta uma profunda crise económica e financeira, decorrente da forte quebra na procura turística - setor que garante 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do arquipélago - desde março de 2020, devido à pandemia de covid-19.
Em 2020, registou uma recessão económica histórica, equivalente a 14,8% do PIB, seguindo-se um crescimento de 7% em 2021 impulsionado pela retoma da procura turística. Para 2022, devido às consequências económicas da guerra na Ucrânia, nomeadamente a escalada de preços, o Governo cabo-verdiano baixou a previsão de crescimento de 6% para 4%.
RIPE (PVJ) // LFS
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