Mari Alkatiri, em declarações à Lusa, sublinhou que nenhuma oferta política surgiu antes, ocorrendo agora num momento em que está em curso um esforço de uma nova maioria para viabilizar o Governo.
"O problema da utilidade ou da necessidade dessa mediação, agora, é uma questão", afirmou Alkatiri, cujo partido está a apoiar agora o atual Governo para garantir a sua viabilização até 2023.
"Durante 13 anos de ditadura democrática, de uma tirania da maioria liderada por Xanana Gusmão, nunca houve iniciativa de qualquer instituição internacional de querer mediar. E num país, num Estado em construção, as coisas devem ser abordadas de outra forma", considerou.
Alkatiri comentou assim uma oferta do Vaticano para ajudar a ultrapassar a crise política em Timor-Leste, através de uma mediação com os líderes nacionais, entre os quais o próprio secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin).
"Acho que a oferta de mediação é estranha nesta altura. Mas mesmo assim, quero dizer, eu, que não sou católico, teria acolhido uma iniciativa do Vaticano", considerou.
"Agora não vale a pena, a partir do momento em que [Xanana Gusmão] um católico, líder nacional, rejeita", disse.
Alkatiri mostrou-se confiante de que os líderes nacionais timorenses conseguirão, entre si, resolver a situação, afirmando, porém, que, para isso, "não basta andar a propagandear para fora que se quer diálogo, quando depois aqui no terreno têm uma praticamente complemente contrária".
A oferta de mediação, que a Lusa noticiou no sábado, foi rejeitada por outro dos líderes convidados, Xanana Gusmão, que se mostrou indisponível para esse diálogo, defendendo que a melhor solução para Timor-Leste "só poderá vir de eleições antecipadas".
"Peço imensas desculpas (...) mas não estou em condições, tanto políticas como psicológicas, de participar em diálogos deste tipo, porque não aceitarei ser fraco demais para fazer cedências, contrárias aos princípios e objetivos do meu partido, pela defesa intransigente do Estado de direito democrático", escreveu Xanana Gusmão na resposta à oferta, numa carta a que a Lusa teve acesso.
Na carta, Gusmão manifesta "surpresa" pela oferta de mediação e diz-se "comovido" pela vontade do Papa Francisco de indicar Sprizzi para "esta difícil, mas nobre missão".
Porém, sustenta, a crise deve-se não a discrepâncias individuais, mas ao que classifica de violações da Constituição pelo atual chefe de Estado, Francisco Guterres Lu-Olo, e a "atropelos" na gestão do atual primeiro-ministro, Taur Matan Ruak.
O "imbróglio" do atual problema, escreve, "é mais do que isso", tratando-se de uma "manifestação clara e persistente desde 2018 de violação da Constituição e das leis pelo chefe de Estado, que é apenas um objeto usado pelo seu próprio partido político, a fim de impor uma ditadura partidária neste jovem Estado".
"Por outro lado, pelo chefe do Governo [Taur Matan Ruak] um desejo incontrolável de atropelamento constante às normas constitucionais e legais quanto ao sistema de gestão financeira do património do Estado", escreve.
Timor-Leste vive desde 2017 uma prolongada crise política que tem envolvido a Presidência da República, dois Governos, o Parlamento Nacional e os partidos políticos, com flutuantes alianças políticas a criarem várias maiorias parlamentares.
Atualmente o VIII Governo conta com o apoio da Fretilin, do Partido Libertação Popular (PLP) do atual primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, e do Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO), que entre si representam 36 dos 65 lugares do parlamento.
ASP // JH
Lusa/Fim