Segundo o despacho de acusação lido hoje, no primeiro dia do julgamento no Tribunal Judicial da Província de Sofala, Sandura Ambrósio terá sido uma das figuras que ajudou a recrutar pessoas para a autoproclamada Junta Militar, um grupo dissidente da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo, maior partido da oposição) acusado de protagonizar os ataques armados que já mataram pelo menos 24 pessoas no centro de Moçambique.

"Para esconder a sua participação no processo de recrutamento, o arguido Sandura Ambrósio, entre os dias 13 e 14 de janeiro de 2020, contactou António Bauase [coarguido e também antigo membro da Renamo] para que este assumisse toda culpa e não mencionasse o seu nome nas audições", leu o juiz da causa, Carlitos Teófilo.

No documento, O MP moçambicano acusa Sandura Ambrósio do crime de conspiração, argumentando ainda que o antigo deputado da Renamo terá apoiado financeiramente a autointitulada Junta Militar.

Em declarações à imprensa após a sessão, o advogado de Sandura Ambrósio disse que a acusação do MP não é baseada em factos, considerando que o seu constituinte é inocente.

"Seria prematuro avançar que existe alguma motivação política ligada ao processo, a verdade é que, como vocês constataram, há contradições", declarou a comunicação social José Capassura.

Sandura Ambrósio foi deputado da Renamo no mandato que terminou em janeiro, mas já havia anunciado a saída do partido em 2019 para se filiar ao Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro maior partido com representação parlamentar.

O ex-deputado concorreu a mais um mandato nas eleições legislativas de 15 de outubro do ano passado pelo MDM no círculo eleitoral de Sofala, mas não conseguiu a reeleição.

Na sessão de hoje, o Tribunal Judicial da Província de Sofala ouviu Aníva Joaquim e Gabriel Domingos (coarguidos).

O crime de conspiração é punido com penas de prisão entre oito e dez anos.

A autoproclamada Junta Militar contesta a liderança da Renamo e o acordo de paz assinado em agosto do ano passado, sendo acusada de protagonizar ataques visando forças de segurança e civis em aldeias e nalguns troços de estrada da região centro do país.

A próxima sessão do julgamento está marcada para quarta-feira.

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Lusa/fim