A mesma fonte da Procuradoria-Geral da República de São Tomé e Príncipe adiantou à Lusa que as diligências realizadas hoje ocorrem no âmbito de uma investigação que decorre há dois meses e que foi suscitada por uma denúncia.

"Foram levados documentos vários e computadores" do gabinete do secretário de Estado do Comércio, Eugénio Graça, e da Direção-Geral do Comércio, disse a mesma fonte, indicando que "a investigação continua".

Não houve detenções nem foram constituídos arguidos.

Em causa poderão estar os crimes de participação económica em negócio, prevaricação e corrupção, acrescentou.

O caso foi tornado público no passado sábado pelo ex-Presidente são-tomense Fradique de Menezes, durante um Conselho Nacional da União MDFM-UDD, que integra a chamada 'nova maioria' (juntamente com MLSTP-PSD e PCD), que suporta o Governo de Jorge Bom Jesus.

O antigo chefe de Estado revelou então que os partidos da 'nova maioria' criaram uma "firma chamada 'Capa' por causa do arroz do Japão", oferecido por aquele país para constituição de um fundo para financiamento de projetos sociais, incluindo o processo eleitoral em São Tomé e Príncipe.

Segundo Fradique de Menezes, os partidos da 'nova maioria' acordaram que a empresa fosse constituída por um representante de cada cor política no poder, nomeadamente do MLSTP, PCD e ele próprio, pela união MDFM-UDD, e "havia um contrato assinado", mas que foi suspenso na segunda comercialização que se iniciou "uns meses antes das eleições presidenciais" de 2021 "para que o candidato do MLSTP [Posser da Costa] ganhasse".

"O senhor líder da bancada parlamentar do MLSTP-PSD reúne-se com o senhor primeiro-ministro, com o nosso secretário de Estado do Comércio [...] [referindo] que temos que acabar com isso, porque o povo não está contente e o candidato do MLSTP é capaz de perder as eleições se continuarmos a comercializar o arroz desta maneira", relatou.

Hoje, o partido da oposição Movimento de Cidadãos Independentes/Partido Socialista (MCI/PS), com dois eleitos no parlamento, instou o Presidente da República a demitir o primeiro-ministro e o Ministério Público a investigar a "denúncia muito grave" de Fradique de Menezes.

"Face às declarações do ex-Presidente Fradique de Menezes, o Movimento de Cidadãos Independentes/Partido Socialista entende que o senhor Jorge Bom Jesus já não tem condições para continuar como primeiro-ministro. Por isso, o Movimento de Cidadãos Independentes/Partidos Socialista insta o senhor Presidente da República a demitir de imediato o senhor Jorge Bom Jesus das funções do primeiro-ministro e chefe do Governo", anunciou hoje o porta-voz do partido, Raúl Cravid.

Para o movimento de Cidadãos Independentes, "o primeiro-ministro, ao suspender um acordo celebrado pelo próprio Governo e a empresa CAPA para a venda do arroz do Japão mediante a orientação do líder da bancada parlamentar do MLSTP/PSD, com a finalidade de beneficiar e financiar a campanha eleitoral do seu candidato, Posser da Costa, demonstrou claramente que não está preocupado com o sofrimento deste povo nem tão pouco com o desenvolvimento deste país".

O MCI/PS considerou que "a forma como foi abordada a questão pelo ex-Presidente da República é uma denúncia muito grave" que, além de merecer o "repúdio e condenação" do partido, "demonstra o desnorte e o desmando reinante na coligação que governa o país" e que "o primeiro-ministro não está interessado em resolver os problemas do povo, mas sim de um pequeno grupo do seu partido".

JH (JYAF) // VM

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