As duas vítimas, um homem e uma jovem de 18 anos, morreram nas embarcações durante a viagem à Pemba, no sábado e domingo, respetivamente, contou à Lusa Manuel Nota, diretor da organização humanitária católica Caritas em Pemba.

"A menina perdeu a vida a duas milhas de Pemba. Já conseguiam ver a cidade, mas ela não aguentou, estava com diarreia e vómitos", explicou Manuel Nota.

As pessoas viajam, durante três a quatro dias no mar, sem comida, nem água, em barcos de madeira carregados com 40 a 70 pessoas, que fogem aos conflitos armados, com destino às praias de Pemba, capital provincial de Cabo Delgado.

"Os barcos não são a motor, dependem do vento. Se tivessem motor talvez teriam chegado à margem antes de ela perder a vida", acrescentou.

"Estes barcos não têm condições sanitárias nenhumas, não se trata de nenhum passeio. As pessoas chegam com fome, desidratadas, em condições desumanas", disse Osman Yacob empresário e porta-voz da Comunidade Islâmica.

O homem, de idade desconhecida, já apresentava problemas de saúde quando embarcou em Pangane, Posto Administrativo de Mucojo, no distrito de Macomia, província de Cabo Delgado com destino à cidade de Pemba, a procura de refúgio, mas morreu no meio da viagem.

De acordo com dados a que a Lusa teve acesso, entre o dia 16 e 25, chegaram à capital provincial de Cabo Delgado, um total de 175 barcos, com 9.695 pessoas deslocadas, provenientes de várias ilhas daquela província.

Do total de chegados, a maioria (4.128), são crianças, havendo também 3.232 mulheres e 2.335 homens.

Quem chega de barco é apoiado à chegada para encontrar família ou amigos que os possam acolher, mas muitos têm ficado ao relento, na praia - sendo depois encaminhados para os campos de deslocados de Metuge, nas imediações de Pemba.

Dos cerca de 300.000 deslocados que o conflito de Cabo Delgado já terá provocado, 86.000 estão a ser acolhidos na capital provincial por famílias já de si com fracos recursos, enquanto outros 51.000 estão nos campos de deslocados de Metuge.

A província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, é palco há três anos de ataques armados desencadeados por forças classificadas como terroristas.

Há diferentes estimativas para o número de mortos, que vão de mil a 2.000 vítimas.

LYN (LFO) // PJA

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