"É fundamental a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas para que possa haver uma representação mais justa e adaptada aos tempos de hoje. Tem de se fazer justiça a África, o único continente não representado de forma permanente", disse Jorge Carlos Fonseca.

O chefe de Estado cabo-verdiano falava hoje durante o primeiro dia dos encontros "Triângulo Estratégico: América Latina - Europa - África", espaço de diálogo político e económico, promovido pelo Instituto para a Promoção da América Latina e Caraíbas (IPDAL).

Jorge Carlos Fonseca respondia, desta forma, quando questionado sobre as reformas necessárias no sistema multilateral para responder aos grandes desafios mundiais.

"É a reforma mais emblemática e a que representa o maior desafio para o sistema multilateral", disse, assinalando os "interesses opostos" de vários grupos e os impasses que estes criam.

"A credibilidade do sistema multilateral está em jogo. É a própria declaração dos 75 anos das Nações Unidas que assume o compromisso de instilar essa reforma. É isso que pretendemos e para o qual queremos contribuir", sublinhou.

Os encontros "Triângulo Estratégico: América Latina - Europa - África", que este ano cumpre a sua décima edição e decorre em formato 'online', tem como tema central a recuperação económica e na saúde global no pós-pandemia de covid-19.

Neste contexto, Jorge Carlos Fonseca adiantou que Cabo Verde está alinhado com os países africanos da Comunidade Económica dos Países da África Ocidental (CEDEAO) e da União Africana (UA) na defesa do "acesso universal, equitativo e rápido" à vacina contra a covid-19 em África.

Por outro lado, destacou a convergência entre países africanos também na proposta do perdão da dívida aos países pobres.

"Devemos continuar a trabalhar conjuntamente de forma que nenhum país seja deixado para trás no que respeita à imunização da população e à retoma da economia", disse.

O chefe de Estado cabo-verdiano reconheceu a importância do mecanismo Covax, liderado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e Aliança para o Acesso às Vacinas (Gavi), mas reclamou "maior apoio internacional" à iniciativa que deverá permitir acesso a doses de vacinas para imunizar 35% da população dos países africanos.

"Revela-se preocupante que o continente africano tenha de procurar mecanismos adicionais além do Covax para garantir que pelo menos 60% da população seja vacinada", disse.

"É preciso que a equidade seja um princípio vetor na distribuição do que é produzido em termos de vacinas", acrescentou.

O secretário-geral das Nações Unidas alertou esta segunda-feira que dez países administraram 75% das vacinas contra a covid-19 e que 130 não receberam uma única dose.

Na segunda-feira, a Organização das Nações Unidas (ONU) anunciou que Cabo Verde será um dos primeiros países africanos a receber vacinas contra a covid-19 através da plataforma Covax.

A Covax é uma iniciativa conjunta da OMS e da Aliança para o Acesso às Vacinas (GAVI) para fornecer vacinas contra a covid-19 a países de médio e baixo rendimento.

De acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), o continente africano regista 3.830.631 casos de infeção pelo novo coronavírus, incluindo 101.350 mortos

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