
"Isso não é justiça. É uma brutal injustiça. Por isso nós lutamos por amnistia, que é um remédio previsto na Constituição e de iniciativa própria do parlamento brasileiro. É o caminho da pacificação (...) Nós esperamos que essa amnistia tenha o apoio dos outros dois poderes, além do Poder Legislativo", afirmou Bolsonaro durante a manifestação em São Paulo, ao lado dos seus principais aliados.
Embora tenha convocado o protesto com o mote de "Liberdade Já" para demonstrar apoio à amnistia aos presos e condenados após os ataques do 08 de janeiro de 2023 na cidade de Brasília, no seu discurso, Bolsonaro voltou a acusar a esquerda de ser responsável pela destruição ocorrida na capital brasileira, num episódio de violência política que chocou o mundo.
"No dia 30 de dezembro [de 2022], graças a Deus, resolvi sair do Brasil. Algo me fez sair do Brasil e não era apenas para não passar faixa [transmitir o poder a Lula da Silva] (...) Jamais passaria faixa para um ladrão! Chegou o fatídico 08 de janeiro. Um movimento, mais do que claro, orquestrado pela esquerda" afirmou Bolsonaro sem apresentar provas.
"Lula não estava em Brasília, no dia anterior, ele foi para Araraquara, porque sabia o que ia acontecer. Tanto é que as imagens de quase 200 câmaras sumiram. Tudo foi quebrado antes daquelas pessoas que em parte estavam no acampamento chegarem", acrescentou.
O ex-Presidente fez um apelo para que sejam eleitos senadores e deputados da sua base de apoio para as eleições de 2026, afirmando acreditar que quem liderar o Congresso vai liderar o Brasil.
"Se me derem, por ocasião da eleição do ano que vem, 50% da Câmara e 50% do Senado, eu mudo o destino do Brasil. Se me derem isso, não interessa onde esteja, aqui ou no além, quem assumir a liderança vai mandar mais que o Presidente," disse Bolsonaro, atualmente impedido de concorrer a eleições até 2030 pela justiça eleitoral.
O protesto começou por volta das 14:00 (18:00 em Lisboa), na Avenida Paulista, no centro de São Paulo.
Ao lado de Bolsonaro, em cima do camião principal, estavam os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas, de Minas Gerais, Romeu Zema, e do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, os senadores Marcos Rogério, Flávio Bolsonaro e Magno Malta, e outros políticos e aliados.
Centenas de manifestantes acompanharam o discurso de Bolsonaro e aliados vestidos com as cores da bandeira do Brasil (verde e amarelo) em resposta ao novo apelo para saírem às ruas e manifestarem apoio a "um ato pela liberdade, pela justiça".
Bolsonaro e dezenas de aliados estão a ser julgados por um suposto complô para anular os resultados das eleições presidenciais de 2022. O alegado plano golpista terá começado depois da vitória do Presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, sobre Bolsonaro que tentava a reeleição.
O ex-Presidente recusou reconhecer a derrota, descredibilizou o sistema e o processo eleitoral (o que levou à proibição de se recandidatar a cargos públicos durante oito anos) e teria incentivado os apoiantes a montarem acampamentos em frente a bases militares para protestar contra o resultado das presidenciais e para exigirem uma intervenção militar.
A 08 de janeiro de 2023, enquanto o novo Presidente brasileiro, Lula da Silva, se encontrava fora de Brasília a visitar a cidade de Araraquara, no estado de São Paulo, atingida por chuvas severas, um grupo de radicais, apoiantes de Bolsonaro, influenciados por meses de desinformação sobre urnas eletrónicas e com medo do comunismo, invadiram e atacaram o Palácio do Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal.
Fontes judiciais estimam que o julgamento deste caso seja concluído no segundo semestre deste ano.
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