Em relatório, a organização não-governamental (ONG) observou que detetou, por meio de vídeos e imagens de satélite, a recente construção de prédios oficiais em terrenos que pertenceram aos muçulmanos rohingya expulsos da aldeia Nan Yar Kone, no Estado de Rakhine, em 2017.
Nesse ano, a 25 de agosto, em resposta a um ataque de um grupo guerrilheiro rohingya, os militares lançaram uma operação de limpeza, com assassinatos, violações e incêndios de casas, que causou o êxodo para o Bangladesh nos meses seguintes de mais de 730.000 membros desta minoria perseguida.
Desde então, os terrenos das casas destruídas dos rohingyas foram ocupados por edifícios oficiais ou por membros da comunidade budista, a minoria no estado de Rakhine, mas a maioria em Myanmar.
A Amnistia afirmou que a construção em Nan Yar Kone ocorre apesar das medidas cautelares impostas a Myanmar (antiga Birmânia) pelo Tribunal Internacional de Justiça de Haia no âmbito do processo por alegado genocídio do Estado birmanês contra os rohingyas.
A ONG indicou que os ativistas rohingyas estão a arriscar-se ao fazer vídeos desses construções, apesar das restrições de movimentos na zona e do bloqueio do sinal de internet móvel imposto pelas autoridades, que dura há meses.
O governo alegou que as limitações da Internet se devem ao conflito armado entre as Forças Armadas birmanesas (Tatmadaw) e o Exército Rakhine (AA), guerrilheiros do grupo étnico local.
"É como se tivéssemos encontrado uma nova guerra depois de acabar a outra. O AA e o Tatmadaw estavam a lutar quase diariamente perto da nossa aldeia" disse à agência espanhola Efe U Shawfi, líder rohingya na aldeia Phon Nyo Leik, a norte de Arracão.
Shawfi relatou que não há combates na sua área há um mês, mas continuam as restrições de movimento dos rohingyas, incluindo cerca de 120.000 amontoados em campos de deslocados desde o começo da violência entre muçulmanos e budistas em Myanmar, em 2012.
O governo nega cidadania e outros direitos à grande maioria dos 600.000 rohingyas que permanecem em Rakhine, que também são discriminados no acesso à educação e saúde.
Além disso, os rohingyas não poderão votar nas próximas eleições de novembro e a Comissão Eleitoral vetou os poucos candidatos desta minoria que concorreram ao cargo.
Embora já estejam no país há várias gerações, os rohingyas são considerados por muitos birmaneses como imigrantes ilegais do Bangladesh, onde também não são reconhecidos, o que os torna apátridas.
Confrontados com a ameaça da covid-19, os rohingyas estão expostos à precária infraestrutura de saúde em Rakhine e nos campos de refugiados do Bangladesh.
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