Seis meses após ter assumido o cargo de Presidente do Conselho Europeu, a 1 de dezembro de 2024, António Costa sublinhou a determinação da União Europeia (UE) em agir face à situação em Gaza. Numa entrevista à agência Lusa, o presidente do Conselho Europeu garantiu que a UE possui uma "panóplia de decisões com consequências concretas" que pode aplicar na sua relação com Israel, motivadas pela constatação da "violação dos direitos humanos em Gaza". Pela primeira vez, um relatório oficial da UE confirmou estas violações, levando o Conselho Europeu a mandatar o Conselho da UE para extrair conclusões sobre o acordo de associação com Israel. Entre as opções em cima da mesa, estão sanções a ministros ou a Israel, a suspensão do acordo ou a convocação do Conselho de Associação UE-Israel.

António Costa tem sido um dos líderes europeus mais vocais na condenação da ofensiva israelita em Gaza, defendendo que a UE "não deve ficar impávida" e que é fundamental dialogar com Israel para alcançar um cessar-fogo. Na cimeira europeia mais recente, as conclusões deploraram a "terrível situação humanitária" na Faixa de Gaza, classificando como "inaceitável o número de vítimas civis e os níveis de fome" resultantes do bloqueio à entrada de ajuda humanitária. O Conselho Europeu tomou nota do relatório sobre o Artigo 2.º do acordo de associação, que aponta para violações dos direitos humanos por parte de Telavive, e anunciou que as discussões sobre como proceder terão início em julho. Costa admitiu a diversidade de posições entre os 27 Estados-membros, alguns dos quais mantêm fortes laços com Israel. No entanto, garante, a "trágica realidade humanitária causada por Israel em Gaza" tornou inegável a urgência de um cessar-fogo, o fim dos colonatos ilegais na Cisjordânia e a permissão de assistência humanitária e o salvamento da população de Gaza, onde se registam mais de 56 mil mortos e 127 mil feridos desde outubro de 2023, com cerca de 470 mil pessoas em risco de fome severa.

Relativamente à guerra na Ucrânia, o presidente do Conselho Europeu defende a continuidade da pressão sobre Moscovo, por não existir, por agora, qualquer disponibilidade da Rússia para negociar um cessar-fogo. António Costa salientou que a Rússia não só recusou negociações como também intensificou os ataques. Numa altura em que a UE se prepara para aprovar o seu 18.º pacote de sanções à Rússia, o líder europeu defende "aumentar a pressão sobre a Rússia" e "continuar a apoiar a Ucrânia".

O novo pacote de medidas restritivas incluirá novas sanções, o combate à frota fantasma do petróleo russo e o alargamento das limitações ao sistema bancário russo, sendo coordenado com os Estados Unidos, o Canadá e outros parceiros internacionais para garantir a sua eficácia. Apesar da persistência do conflito, António Costa salientou que as sanções europeias estão a resultar, dada a "situação de grande debilidade" da economia russa. Desde o início da invasão em fevereiro de 2022, a UE concedeu 138,2 mil milhões de euros à Ucrânia, prevendo mais 30,6 mil milhões para 2025, e tem avançado com pesadas sanções, incluindo o congelamento de 24,9 mil milhões de euros em bens privados e 210 mil milhões de euros do Banco Central da Rússia.

Quanto à defesa europeia e às relações com os Estados Unidos, António Costa afirmou que investir em defesa sem preservar o Estado social da União Europeia seria um "suicídio coletivo". Para Costa, a defesa consiste na mobilização da sociedade para proteger o seu modo de vida e valores, estando intrinsecamente ligada à existência de um Estado Social forte. A Europa tem assistido a uma "mudança radical", com uma compreensão generalizada de que "a paz sem defesa é uma ilusão". Paradoxalmente, os apelos do Presidente norte-americano, Donald Trump, a mais gastos em defesa contribuíram para uma convergência de posições, defendendo Costa que a melhor forma de preservar a relação transatlântica é uma "Europa da defesa, um pilar europeu da NATO e uma maior autonomia estratégica da Europa".

Os líderes da UE comprometeram-se a financiar o aumento dos gastos com defesa, coordenando os investimentos. A nova meta da NATO aponta para que os aliados gastem, até 2035, 3,5% do PIB em despesas militares tradicionais e 1,5% adicionais em infraestruturas de cibersegurança e resiliência estratégica. Entre 2021 e 2024, a despesa da UE em defesa aumentou mais de 30%.

António Costa considera que o acordo alcançado na NATO terá um "efeito positivo nas negociações comerciais" entre a UE e os Estados Unidos, esperando que estas se concluam "rapidamente e bem" para dissipar a incerteza económica. As tensões comerciais entre Bruxelas e Washington surgiram devido aos anúncios de Trump sobre a imposição de taxas sobre produtos europeus. Apesar de Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, ter avisado que a UE se prepara para a possibilidade de não haver um "entendimento satisfatório", António Costa sublinhou que as relações comerciais entre os EUA e a Europa representam 30% do comércio internacional e 40% do PIB mundial, pelo que qualquer impacto negativo seria prejudicial para as economias global, europeia e americana.

O Presidente do Conselho Europeu defendeu a proposta da União Europeia de "tarifas zero", argumentando que estas representam impostos pagos pelos consumidores e contribuem para o aumento da inflação, contrariando a visão da administração americana, que as vê como um instrumento de política económica. Embora admita um possível adiamento das negociações, Costa considera que tal apenas prolongaria a incerteza. Relativamente à NATO, Costa observou que a cimeira recente resolveu dúvidas sobre a existência da aliança, com todos os parceiros a expressarem a vontade de continuar juntos e de reforçar a cooperação, reafirmando a NATO como a mais eficaz.