Numa reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) sobre a situação na central nuclear ucraniana de Zaporijia - atualmente controlada pelas forças russas -, o diretor da AIEA afirmou que a segurança nuclear e a situação de proteção da central continuam "extremamente frágeis e perigosas".

Antevendo que as atividades militares possam aumentar consideravelmente num futuro próximo, Grossi - que classificou a reunião de hoje como "a mais importante" em que participou desde o início da guerra - afirmou que "chegou a hora de ser mais específico quanto ao que é necessário", ou seja, "evitar uma libertação perigosa de material radioativo".

Nesse sentido, o diplomata argentino delineou cinco princípios que considerou "essenciais" para evitar o perigo de um incidente catastrófico na central nuclear de Zaporijia.

"Não deve haver nenhum tipo de ataque de ou contra a central, em particular visando os reatores, armazenamento de combustível irradiado, outra infraestrutura crítica ou pessoal", diz o primeiro princípio definido por Grossi.

Em segundo, Zaporijia não deve ser usada como armazenamento ou base para armas pesadas - ou seja, lançadores de foguetes múltiplos, sistemas de artilharia e munições e tanques - ou pessoal militar que possa ser usado para um ataque a partir da central.

"A energia fora do local para a central não deve ser colocada em risco. Para isso, todos os esforços devem ser feitos para garantir que a energia externa permaneça disponível e segura o tempo todo", frisou Grossi.

Além disso, todas as estruturas, sistemas e componentes essenciais ao funcionamento seguro e protegido da central nuclear de Zaporijia devem ser protegidos de ataques ou atos de sabotagem.

Por fim, "nenhuma ação deve ser tomada que prejudique esses princípios", sublinhou o diretor da AIEA.

"Peço respeitosa e solenemente a ambas as partes do conflito que observem estes cinco princípios e solicito aos ilustres membros do Conselho de Segurança que os apoiem inequivocamente", exortou.

A AIEA pretende começar a monitorizar esses princípios através da sua missão no local, informou ainda Grossi.

Esta é a quarta reunião do Conselho de Segurança da ONU focada na central de Zaporijia desde o início da guerra em fevereiro de 2022 e foi convocada pelo Equador e pela França.

A central nuclear de Zaporijia - a maior da Europa - fornecia 30% da eletricidade da Ucrânia antes da invasão russa no ano passado.

Desde março do ano passado, as forças russas controlam a central, enquanto técnicos e especialistas ucranianos da agência estatal de energia atómica da Rússia - Rosatom - continuam a operar a instalação.

Nas últimas semanas, bombardeamentos no local - pelos quais Kiev e Moscovo se culpam mutuamente - levantaram preocupações sobre uma possível catástrofe.

Rafael Grossi informou hoje que a central tem estado a funcionar com um número significativamente reduzido de funcionários, situação que "não é sustentável".

Além disso, especificou, por sete ocasiões o local perdeu toda a energia externa e "teve que contar com geradores a diesel de emergência, a última linha de defesa contra um acidente nuclear, para fornecer o resfriamento essencial do reator e do combustível irradiado".

Na reunião de hoje, a embaixadora norte-americana junto à ONU, Linda Thomas-Greenfield, acusou a Rússia de "flagrante desrespeito ??????" pelos princípios de proteção e segurança da central nuclear e afirmou que a comunidade internacional "susteve a respiração" por cada vez que a instalação foi atacada.

De acordo com a diplomata, notícias recentes indicam que Moscovo desconectou os sensores vitais de monitorização de radiação de Zaporijia, o que significa que os dados da central estão a ser enviados ao regulador nuclear russo.

"Esta é uma clara escalada dos esforços da Rússia para minar a soberania ucraniana sobre a central. (...) Deixem-me ser clara: a central nuclear de Zaporijia pertence à Ucrânia. E os seus dados devem ir para a Ucrânia, não para a Rússia. As ações imprudentes da Rússia contrastam fortemente com o comportamento responsável da Ucrânia", avaliou ainda a norte-americana.

Por sua vez, o embaixador da Rússia junto à ONU, Vasily Nebenzya, atribuiu a Kiev a responsabilidade pela deterioração de segurança da central nuclear, afirmando que a proteção das instalações "continua a ser uma prioridade inquestionável" para o seu país.

"Nas condições atuais, a Rússia pretende tomar todas as medidas possíveis para fortalecer a segurança e a proteção da central (...). Continuaremos a garantir a proteção das instalações de forma a não permitir que nem mesmo o ocidente coletivo, de forma grosseira e irresponsável, viole esses pilares", disse Nebenzya.

Também o representante permanente da Ucrânia junto à ONU, Sergíy Kyslytsya, foi convidado a participar na reunião, onde "louvou a bravura" dos funcionários ucranianos da central, que "trabalham em condições desumanas de constante intimidação e ameaças de detenção e tortura" por parte dos militares russos.

"Por nosso lado, reafirmamos que nunca recorreremos a qualquer ação que possa levar a um incidente nuclear. Percebemos as consequências catastróficas de tal incidente, tanto para a Ucrânia, quanto para os Estados vizinhos, e é por isso que (...) esta estação deve ser desocupada e devolvida ao legítimo controlo total ucraniano", defendeu.

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