
No princípio — “Um Lugar Silencioso” de John Krasinski (2018) — era uma boa ideia (que digo eu? uma excelente ideia) que, como todas as muito boas ideias, parecia não conseguir cumprir as necessidades narrativas que o “e depois?” implicava. O mundo tinha sido invadido e praticamente ocupado por uns monstros que detetavam a realidade em volta pelo som. O mínimo ruído os atraía e, com eles, a aniquilação. Mas, surpresa, havia maturação, desenvolvimento, suspense, um trabalho de argumento feito com engenho e minúcia, uma realização lesta e competente.
O filme não vivia de efeitos especiais, vivia de emoções humanas, uma família unida em mútua proteção ante um cenário de extermínio. Depois Krasinsky fez uma sequela que já não era tão sólida e, agora, apenas no papel de produtor e coautor da história, abalançou-se a uma prequela (“Um Lugar Silencioso: Dia Um”, realizado por Michael Sarnoski). Como o título indica, situa-se no momento da invasão alienígena vista do que aconteceu em Nova Iorque. Protagonista: uma rapariga negra, doente de cancro, interpretada, com inexcedível garbo, por Lupita Nyong’o, a tentar dar desesperada espessura humana a um filme que, ao contrário dos seus antecessores, não aposta nos detalhes, numa partilha inteligente com o espectador, no cuidado com a coerência interna. O que importa, agora, é a espetacularidade da destruição — Nova Iorque devastada — e os ataques ferozes dos monstros que viram automóveis com simples piparotes. O que importa é o fragor, as correrias, a cabeça perdida. Medo em nós? Nenhum. E já que, com os efeitos digitais, se pode fazer tudo, nada impressiona, é só desenhos animados. Bem feitos, claro, era o que mais faltava… De maneira que as duas estrelas que ora se atribuem devem ir, inteiras, para Lupita Nyong’o, excelente atriz que não tem culpa do lugar onde a meteram.