Wake up, Cinderella! (Acorda, Cinderela!), dizem Carlota Pereira, Raquel Almeida, Sofia Sousa, Joana Rodrigues e Maria Ramos no final do vídeo de apresentação enviado para o Gen-E 2025, principal festival de empreendedorismo da Europa. As alunas do 12º ano do Colégio de Santa Doroteia, em Lisboa, representaram Portugal no evento realizado em Atenas, capital da Grécia, entre os dias 1 e 3 de julho, com um produto inovador pensado para garantir a proteção de jovens e adultos em festas e outros eventos sociais.

O Cindy é um detetor de bebidas adulteradas. O produto consiste em tiras de materiais biodegradáveis que são colocadas no líquido e indicam, através de uma coloração fluorescente, a presença indesejada de substâncias popularmente conhecidas como “Boa noite, Cinderela” e que são usadas para provocar perda de consciência nas vítimas.

Miniempresa Cindy-UP é formada por cinco alunas do 12º ano
Miniempresa Cindy-UP é formada por cinco alunas do 12º ano Arquivo pessoal

Nos últimos tempos, o número de casos de bebidas adulteradas tem vindo a aumentar, assim como as consequências graves para quem é vítima deste tipo de situação, explica Joana Rodrigues, Chief Marketing Officer (CMO, diretora de marketing) da miniempresa Cindy-UP. É um problema que nos preocupa profundamente, especialmente por ter acontecido a amigos e familiares e ser algo muito próximo de nós”, acrescenta ao Expresso.

Este projeto foi desenvolvido no âmbito da disciplina opcional Inspira-te, Faz e Cria e rapidamente ganhou notoriedade. Inicialmente, o produto foi apresentado no Junior Market, competição distrital realizada no final de abril. A experiência, contudo, ficou marcada pelo apagão que afetou a Península Ibérica e parte de França no dia 28 daquele mês. Ficámos desiludidas, conta Joana. Tínhamos tudo preparado e não pudemos fazer a apresentação do stand, não sabendo ainda como seria a partir dali.

A apresentação foi realizada poucos dias depois, e a Cindy-UP foi uma das dez empresas escolhidas para disputar o Gen-E Portugal, torneio nacional que lhes garantiu uma vaga no Gen-E 2025.

No início de julho, as jovens viajaram até Atenas para representarem Portugal na categoria Innovation Challenge Upper Secondary Level. A viagem foi um grande desafio, uma vez que, além do final do ano letivo, o início do evento estava marcado para o dia seguinte ao exame nacional de Matemática. Mesmo assim, tudo valeu a pena, entende a responsável pelo marketing da empresa.

A Cindy-UP não conquistou o principal prémio em disputa. Mesmo assim, não voltou para Lisboa de mãos a abanar. Carlota Pereira, CEO desta miniempresa, conseguiu um destaque especial durante a cerimónia ao conquistar o troféu na categoria Alumni Leadership Award. A sensação de vencer este prémio foi incrível e muito gratificante porque senti que tenho uma equipa que me apoia incondicionalmente. A vitória não seria possível sem elas, conta a empreendedora.

Equipa da empresa Cindy no Gen-E Portugal
Equipa da empresa Cindy no Gen-E Portugal Arquivo Pessoal

Os próximos passos para o desenvolvimento deste projeto já estão definidos. As jovens ainda não finalizaram o protótipo, mas já identificaram, com o auxílio das autoridades policiais, as três drogas mais usadas para adulterar bebidas: cetamina, GHB e MDMA. Depois, a pesquisa pelos reagentes que pudessem identificar estas drogas foi feita com o auxílio de um professor de Biologia, enquanto o design foi definido com um professor de Artes.

Agora, as estudantes procuram investidores para dar sequência a este projeto. O principal objetivo, porém, é outro. A longo prazo, procuramos promover uma mudança de mentalidade, levando a sociedade a perceber que o perigo não está só nos bares e que querer estar seguro não é motivo de constrangimento, mas sim de preocupação, não só consigo próprio mas também com aqueles que amamos, finaliza Joana Rodrigues.

Texto escrito por João Sundfeld e editado por Hélder Gomes.