
A menos de quatro meses das eleições autárquicas, o Partido Comunista Português (PCP) enfrenta uma crise sem precedentes no concelho de Palmela. A dificuldade em encontrar nomes disponíveis e credíveis para encabeçar a lista à Junta de Freguesia de Palmela expôs a fragilidade interna do partido, com cinco figuras abordadas e três delas a recusarem o convite.
A falta de soluções obrigou os comunistas a recuar no tempo e a resgatar Ana Teresa Vicente, ex-presidente da Câmara e da Assembleia Municipal, figura que carrega consigo uma controversa reforma atribuída aos 47 anos, que volta agora a marcar a agenda política local.
Segundo apurou o Diário do Distrito, Paulo Cabica, ex-autarca da freguesia de Palmela (PCP), foi o primeiro nome a ser sondado e a rejeitar o desafio. Seguiram-se recusas por parte do atual vice-presidente da autarquia, Luís Miguel Calha, e da vereadora Fernanda Pézinho (PEV). Também a vereadora Maria João Camolas, independente eleita pelo PCP, não deu garantias, embora o seu nome continue a circular como possível plano B. Das cinco abordagens diretas feitas pelo PCP, apenas Joana Pires terá ponderado em aceitar o convite para encabeçar a lista à Junta de Freguesia.
Face à onda de recusas e à crescente instabilidade interna, o PCP avançou com o nome de Ana Teresa Vicente como rosto forte para segurar a Câmara Municipal de Palmela, tentando capitalizar a sua experiência política acumulada. No entanto, a sua reaparição reacendeu a polémica em torno da reforma antecipada, pedido esse formalizado a 8 de janeiro de 2013 e com início efetivo de reforma em fevereiro do mesmo ano, quando contava apenas 47 anos, sendo que Ana Teresa Vicente só se reformou na prática em fevereiro de 2013, ao concluir o seu terceiro mandato como autarca.
O caso da reforma de Ana Teresa Vicente tem sido um estorvo do PCP. Concedida com base num regime que permitia a contagem a dobrar de tempo em funções políticas, e revogado ainda em 2005, o processo gerou forte contestação pública. Na altura, Ana Teresa Vicente alegou ter reunido os requisitos legais e somado 26 anos de serviço, explicando que só usufruiria da pensão após cessar funções. A pensão, no valor de 1.859,67 euros, foi confirmada em “Diário da República”, mas o desgaste político manteve-se.
O PCP, publicamente, demarcou-se da decisão da sua autarca na altura, classificando-a como pessoal e reafirmando a sua oposição ao regime que originou a aposentação, num comunicado emitido em 2013. Apesar disso, o nome de Ana Teresa Vicente continua a dividir opiniões no seio do partido, sobretudo num momento em que Palmela representa um reduto histórico em risco de cair nas mãos de outras forças políticas.
A escolha de Ana Teresa Vicente como potencial figura de proa e o convite também a Joana Pires para a Junta de Palmela são vistos por muitos como manobras desesperadas num partido que vive tempos de desorientação e retração eleitoral. A confirmação final dos candidatos será feita a 18 de junho, às 18h30, numa sessão que contará, pela primeira vez, com a presença do secretário-geral Paulo Raimundo, sinal claro da gravidade do momento.
Para muitos políticos e observadores locais, a vinda de Paulo Raimundo é uma tentativa de apagar incêndios políticos, numa autarquia que foi durante décadas símbolo do domínio comunista. Mas a erosão de apoios, os episódios polémicos do passado e a recusa de quadros de confiança indicam um partido fragilizado, sem liderança local consolidada e em risco real de perder Palmela.