
"Penso que os turistas do interior da China começaram a perder a confiança em termos de quando podem vir a Macau, porque estão preocupados, claramente, em ficar aqui presos", disse à Lusa o vice-presidente da Associação de Hotéis de Macau, Rutger Verschuren.
Macau decretou na madrugada de domingo o estado de prevenção imediata, depois de detetar 12 casos de covid-19, e decidiu avançar para a testagem geral da população num período de 48 horas.
Além de aplicarem medidas de isolamento em várias zonas da cidade, as autoridades avançaram com novas restrições à entrada de turistas do interior da China. Aqueles que atravessam as fronteiras têm de apresentar agora um certificado de teste de ácido nucleico com resultado negativo feito nas anteriores 48 horas. Anteriormente, o prazo era de sete dias.
A Associação de Hotéis de Macau, que representa 59 estabelecimentos da região, de quatro e cinco estrelas, admitiu que, por questões de saúde pública, apoia a política de prevenção do Governo. Já no que diz respeito ao negócio, o organismo considerou que as medidas "extremamente stressantes" vieram deitar por terra os planos de recuperação para o verão.
"Perante a situação atual, podemos dizer adeus a junho e pelo menos a metade de julho, mas temos alguma esperança em agosto", notou Vershuren, apontando que "com um surto destes leva pelo menos dois meses para [o setor começar a] recuperar".
Também o presidente da União das Associações dos Proprietários de Estabelecimentos de Restaurantes e Bebidas de Macau notou à Lusa que o mais recente surto e programa de resposta das autoridades "vão ter um impacto imediato" no negócio.
"Mas depende de como o Governo consegue controlar a transmissão do vírus. Se tudo correr bem, prevejo que para a semana volte tudo ao normal", disse Chan Chak Mo, realçando esperar que as autoridades criem, "mais tarde, se possível, um plano de auxílio económico".
O Governo anunciou no domingo sete medidas de apoio a empresas e residentes de Macau, no valor total de dez mil milhões de patacas (1,2 milhões de euros), sustentadas pela reserva financeira, que vão desde benefícios fiscais a uma moratória por um ano do pagamento de empréstimos bonificados.
"Para já são boas medidas, mas tudo depende do avançar da pandemia. Se persistir e [os turistas] não puderem entrar em Macau, isso pode indicar um problema iminente e recorrente e penso que o governo deve olhar para a situação", constatou o também deputado da Assembleia Legislativa.
Synthia Chan, representante da área das convenções e exposições (MICE, na sigla inglesa), um setor "continuamente afetado" pela pandemia, mostrou-se mais cética quanto ao apoio económico anunciado pelo executivo.
"Não ajuda a indústria, pelo que entendi", salientou a presidente da Associação de Comércio e Exposições de Macau.
"O setor MICE depende muito dos turistas da China ou de fora para que os eventos tenham sucesso", disse, frisando que "Macau é um destino muito turístico" e os viajantes MICE são "o topo dos turistas" e aqueles "que estão dispostos a gastar dinheiro".
"Este surto agora, com as restrições fronteiriças - que nós entendemos - não vão possibilitar a recuperação da economia", completou.
As medidas de restrição e controlo contra a covid-19 levaram Macau, que em 2019 contabilizou quase 40 milhões de visitantes, a fechar a fronteira a estrangeiros e a impor uma quarentena obrigatória a quem chega de fora, com exceção da China continental.
Só no mês passado, o número de visitantes caiu 30,6% em termos anuais, de acordo com dados divulgados na segunda-feira pela Direção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC).
Para fazer frente à baixa turística, aponta o vice-presidente da Associação de Hotéis de Macau, várias unidades hoteleiras têm "criado programas para reduzir custos e obter receitas".
"Muitos trabalhadores viajam entre Zhuhai [cidade fronteiriça] e Macau, e não o podendo fazer, têm de ficar em algum lado. Como não têm um apartamento, podem reservar um hotel, mas claro, [agora] não podem utilizar as instalações, porque não está nada aberto", notou.
No que diz respeito aos próximos passos, Synthia Chan sugeriu que Macau observe as regiões vizinhas e "entenda como se adaptar" a esta nova realidade.
"Em Singapura ou na Tailândia, eles abriram [as fronteiras], mas com requisitos de entrada: precisa-se de pelo menos duas vacinas à covid-19 e testes feitos 24 ou 48 horas antes. Lembro-me de ir a uma exposição na China e antes de entrar no evento tive de fazer um teste no local", contou.
CAD (EJ/JMC) // LFS
Lusa/Fim