O objetivo consta do programa do Governo para a legislatura (2021 a 2016), a apresentar ao parlamento na segunda-feira e que obriga à votação de uma moção de confiança ao Governo, ao mesmo tempo que o executivo, que continua a ser liderado por Ulisses Correia e Silva, afirma estar "em curso" a "revisão" do contrato de concessão, por 20 anos, iniciado em agosto de 2019, com a CV Interilhas (CVI), liderada pela portuguesa Transinsular (Grupo ETE).

"Com o objetivo de melhorar a prestação do serviço público, que contará com a construção de gares de passageiros em todos os portos nacionais. Um segundo barco afeto à concessão estará em Cabo Verde brevemente [até final de junho]", assume o programa do Governo.

O documento acrescenta o objetivo de "implementar medidas para reforçar e melhorar a unificação do mercado nacional através de transportes marítimos eficientes, de custos das operações portuárias interilhas", bem como "de fiscalidade aduaneira competitivos", que são "fundamentais para a mobilidade, a dinamização da economia das ilhas e a redução das assimetrias regionais".

Num projeto conjunto com a empresa pública que gere os portos do país, Enapor, e o Ministério da Economia Marítima, a CVI está envolvida na construção de uma rede de gares marítimas, tendo em conta que dos nove portos do país apenas "três funcionam bem", disse à Lusa, em abril, Jorge Maurício, vice-presidente do grupo ETE - Cabo Verde, que através da Transinsular (51%), lidera a CVI.

O responsável acrescentou que está também prevista a instalação de mais de seis gares para "permitir um serviço integrado" aos passageiros, para não estarem "ao relento e ao sol" a aguardar pelo transporte marítimo.

Centros de logística nos portos, para acondicionamentos e mercadorias, e garantir "conforto em terra" para os passageiros são objetivos assumidos pela CVI para os próximos anos.

"Satisfazer o passageiro dos transportes marítimos como se fosse de um transporte aéreo. Cabo Verde vai sempre ter necessidade de transporte interilhas. O transporte marítimo de passageiro vai ser sempre uma necessidade, temos de apostar na qualidade, na previsibilidade na regularidade, a confiança e a segurança também são importantes", apontou.

O administrador acrescentou que o Governo e a CVI iniciaram a revisão do contrato de concessão daquele serviço, com a empresa a "congratular-se", tendo em conta que a atividade está a ser regida com base nos pressupostos de viabilidade de um estudo económico-financeiro, havendo agora "dados reais" para a concedente e a concessionária analisarem.

Segundo a administração, a CVI transportou 355 mil passageiros em 2020, o primeiro ano completo de atividade, afetada pelos "consideráveis" impactos da pandemia.

"Tivemos uma redução à volta de 30% na atividade global da empresa em 2020. O primeiro trimestre foi muito bom, de alto nível, com recorde de passageiros, mas seguiram-se quebras brutais e alguma recuperação no último trimestre", explicou Jorge Maurício.

Os navios da CVI transportaram ainda em 2020 um total de 179 mil toneladas de mercadoria e mais de 40.000 viaturas.

Após o forte crescimento do movimento nos primeiros meses de atividade, o negócio da CVI foi afetado pelas restrições impostas pela pandemia de covid-19. Durante mais de um mês (abril e maio) o transporte de passageiros foi suspenso e ainda hoje há limitações à lotação máxima dos navios, além da ausência de turistas, que representavam uma "grande parte" da procura.

Com várias linhas ainda deficitárias, como as que servem as ilhas do Maio, Boa Vista, Brava ou São Nicolau, o administrador sublinhou as dificuldades de 2020, que se traduziram em prejuízos "consideráveis" para a empresa, sobretudo de abril a setembro.

"A maior parte das vezes nós tivemos de cumprir o contrato de concessão, fazer as viagens todas, as ligações todas, cumprir os itinerários, sem qualquer passageiro e com uma carga ínfima", reconheceu.

A CVI conta na estrutura acionista com armadores cabo-verdianos (49%), que no modelo de transportes anterior asseguravam as ligações de forma autónoma.

Para 2021 as perspetivas, admitiu, não são boas, com as quebras na procura a arrastarem-se no primeiro semestre, devido aos efeitos da pandemia, e uma melhoria para o segundo semestre, aguardando os efeitos da vacinação em massa, o regresso do turismo e o fim da limitação às viagens - que ainda obrigam à realização de testes rápidos -, sobretudo "com mais passageiros do que em 2020".

Ao fim de menos de dois anos de atividade, afirmou, a nova empresa conseguiu "dar uma resposta", permitindo que "todas as nove ilhas habitadas" tivessem acesso a ligações marítimas "regulares, previsíveis, de itinerários e horários predefinidos".

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