"O problema que a SADC está a enfrentar é precisamente como equilibrar os ganhos militares a curto prazo com a solução a longo prazo do problema. Vimos no Iraque, Afeganistão e noutros lugares do mundo nos últimos 20 anos que é muito difícil fazer este tipo de operações de forma eficaz", disse Esterhuyse no seminário "Aproveitar os benefícios de uma Força da SADC em Moçambique", promovido pelo Institute for Security Studies (ISS).

"As hipóteses de se ser bem-sucedido neste tipo de operações são muito baixas da perspetiva militar, por isso se não se trouxer um desenvolvimento político e económico compreensivo para a região de uma forma interligada com o que se está a fazer militarmente, tornar-se-á numa operação muito, muito difícil", alertou o especialista.

A SADC aprovou na semana passada um mandato de "força conjunta" para travar a insurgência em Cabo Delgado, definindo um orçamento de 12 milhões de dólares (10 milhões de euros) para o destacamento da operação.

Abel Esterhuyse considerou que há também uma "questão crítica" que se prende com o estabelecimento destas operações e com a dependência que estas podem criar nas suas áreas de ação.

"Acho que é uma questão crítica que se liga à questão do sucesso a longo prazo destas operações, porque é muito fácil lançar os militares para este tipo de emergências, mas assim que estes são puxados para a complexidade destas emergências, é muito difícil retirá-los sem criar um vazio e instabilidade", apontou.

Entre os oradores do seminário virtual esteve o diplomata moçambicano Agostinho Zacarias, que defendeu que a operação em Cabo Delgado não pode ser apenas uma missão militar.

Agostinho Zacarias disse também ser importante "perceber se estes 12 milhões de dólares são suficientes para manter a missão" e que a construção de uma África Austral pacífica acarreta custos.

"Acho que todos estamos interessados em construir uma África Austral pacífica, e há um preço a pagar por isso", sublinhou.

Agostinho Zacarias apontou que se cada país alocar "0,7% do seu PIB [Produto Interno Bruto] para um fundo regional, provavelmente poder-se-ia começar a ter alguns recursos que poderiam permitir pontos como o treino, serviços de informações e a partilha destas".

"Mas se ficarmos quietos e deixarmos apenas um país para fazer isso, acho que vamos todos afundar juntos", avisou.

Grupos armados aterrorizam a província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.800 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e 732.000 deslocados, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU).

A SADC é uma organização de integração sub-regional, composta por 16 Estados-membros, integrada por Angola, República Democrática do Congo, Essuatini, Namíbia, Zimbabué, Zâmbia, Lesoto, África do Sul, Comores, Ilhas Maurícias, Madagáscar, Seicheles, Tanzânia, Maláui, Botsuana e Moçambique, que assume neste momento a presidência rotativa.

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