A poucas horas de os motores começarem a roncar na pista de Melbourne Park, na Austrália, o palco do primeiro Grande Prémio de Fórmula 1 de 2025, prognostica-se uma das temporadas mais abertas da última década. Desde o imprevisto título do britânico Jenson Button com a Brawn no já longínquo 2009 que a luta pelo cetro não se antevê não repartida, com quatro equipas e ainda mais pilotos a perfilarem-se na candidatura.

Depois das hegemonias da Red Bull com Sebastian Vettel (2010-13), da Mercedes com Lewis Hamilton (2014-15 e 2017-20) e Nico Rosberg (2016) e de segunda vaga do construtor austríaco, ainda em curso, com Max Verstappen (2021-), será a primeira temporada em que se reconhece efetivamente um número maior e mais diversificado de contendores. Pelo menos, até aos monolugares começarem a acelerar em Melbourne Park.

 A imprevisibilidade é bastante e as questões que começarão a ser esclarecidas a partir da próxima madrugada (01h30 em Portugal Continental, o início dos treinos livres do GP da Austrália) e durante longa temporada de 24 corridas (igualando a de 2024, como a mais extensão de sempre), só enriquecem de interesse a competição. A pergunta principal é esta: prolongar-se-á a época triunfal de Max Verstappen, campeão nos últimos quatro anos ou interrompe-se mais um ciclo de hegemonia de um piloto (não de uma marca, porque o da Red Bull já foi cortado no último ano, pela McLaren)?

Os indicadores não são claros (e que decorrem tão-só dos testes de pré-temporada no Bahrain), mas apontam para a McLaren, que emergiu como a equipa mais competitiva a partir do primeiro quarto do campeonato de 2024, arranque da pole position para 2025, e que a sua dupla de pilotos Lando Norris e Oscar Piastri partilhe a primeira fila da grelha. No entanto, não se arrisca quem, entre o britânico (o único que chegou a ameaçar a conquista do tetra por Verstappen) e o jovem australiano, parta à frente.

Na McLaren não há hierarquia (foi estabelecida em fase tardia da época transata, em favor de Norris, para não dispersar esforços na tentativa de chegar ao título, em vão) e apesar de o britânico se ter mais regular, ainda que não o suficiente para ter vencido Verstappen), Piastri deverá ter concluído a fase de maturação e acaba de receber voto de confiança da equipa com a renovação contratual. 

Todavia, se os testes no Bahrain fazem antever para a vantagem, ainda que ligeira e (reforce-se) por comprovar, da McLaren, também permitem antecipar que as quatro equipas que estiveram no topo em 2024 estão mais próximas. A saber, Red Bull, Ferrari e Mercedes, e sem que se vislumbre quais são as repartições de força.

A Red Bull, que passou uma temporada de altos e baixos, bem-sucedida, pelo título de Verstappen, menos bem conseguida, pela perda do mundial de construtores, tem no tetracampeão – tomemos o risco de o afirmar – uma mais-valia sobre as rivais. Verstappen tem provado nos últimos quatro anos – e nos momentos cruciais da época transata ser capaz de fazer a diferença mesmo com um carro (ligeiramente) menos eficaz – e é sem dúvida o piloto mais ‘racer’ (mais competitivo) do pelotão.

Da igualha do talento do neerlandês e certamente tão ou mais motivado para vencer, estará o único piloto no ativo mais consagrado do que aquele, o heptacampeão Lewis Hamilton, que quererá relançar-se para nova candidatura ao título (que seria o oitavo e novo recorde na F1) no cockpit de sonho de qualquer piloto, o da Ferrari.

O monolugar da Scuderia parece rápido o suficiente para alimentar a ambição do britânico, que terá de contar com concorrência interna, de Charles Leclerc. O monegasco, na sétima temporada na Ferrari, não deverá querer ficar na sombra do seu ilustre companheiro de equipa, e confirmando-se que o carro tem performance para lutar pelo título, deixar passar a oportunidade de visá-lo. 

A quarta força em compita pelo topo (não necessariamente a menos forte) em 2025 será a Mercedes, que procura, pelo quarto ano consecutivo, voltar a ser candidata aos títulos, após 2021 ter sido o último em que o conseguiu, quando Hamilton perdeu o Mundial para Verstappen, na controversa derradeira corrida.

Na primeira época pós-Hamilton na equipa do construtor alemão, George Russell é a principal aposta, mas a maior expectativa está na estreia do promissor italiano Andrea Kimi Antonelli, com apenas 18 anos, a quem se identifica talento extraordinário. Sem dúvida, será um dos jovens lobos a observar em 2025, como outros, entre os quais se destaca o neozelandês (23 anos) Liam Lawson, eleito pela Red Bull para substituir Sergio Pérez.

Por último, ainda entre (inúmeros) motivos de interesse na nova temporada, aferir o desempenho das demais seis equipas da grelha, de que o da Williams, capaz de proporcionar à histórica equipa britânica o ressurgimento após os tempos áureos das décadas de 1980 e 90 (últimos títulos datam de 1997, construtores e de pilotos, pelo canadiano Jacques Villeneuve). A contratação do motivado Carlos Sainz, empenhado em continuar a mostrar serviço depois de ter sido relegado da Ferrari), é um incentivo.

O que muda nas regras em 2025 

Em ano de transição para a autêntica revolução nos regulamentos que ocorrerá em 2026, as ligeiras alterações visam aerodinâmica e proteção dos pilotos.

 Embora a temporada de 2026 traga a maior alteração nos regulamentos técnicos da F1 em muito anos, o campeonato que se prepara para arrancar não deixa de incluir algumas mudanças com influência não desprezível.

Uma dessas modificações às regras tem a ver com a conformidade das asas dianteiras e traseiras asas, cujos elementos que as compõe terão de respeitar uma medida de flexão máxima, para impedir que possam ter efeito de mini-DRS, como sucedeu em 2024. O plano principal das asas não poderá flexionar mais do que 6 mm na direção da carga aplicada, enquanto a aba superior não pode se mover mais do que 7 mm quando a carga é aplicada horizontalmente. Além disso, o plano de fuga da asa traseira só pode ter uma flexão máxima de 3 mm.

As dimensões da asa traseira também foram revistas: o espaço entre os dois elementos da asa foi reduzido de 10-15 mm para 9,4-13 mm. Com o DRS aberto, o limite superior permanece em 85 mm.

Um aumento de 2 kg no peso mínimo do piloto elevará o peso mínimo total dos carros de F1 para 800 kg. No caso de a FIA declarar «risco de calor» - em temperaturas ambientes a partir de 31°C, o peso mínimo será aumentado em 5 kg para compensar o aumento da massa do novo e obrigatório equipamento de arrefecimento do piloto, em que se inclui uma bateria externa para alimentar o sistema. O equipamento consiste numa camisa especial à prova de fogo com uma tubagem interna por onde flui o líquido de refrigeração, conectado a uma unidade de controlo que o bombeia.

Uma das maiores mudanças no formato de 2025 é a eliminação do ponto para a volta mais rápida da corrida (restringido aos 10 primeiros classificados). O objetivo é acabar com estratégias, que se tornaram comuns, de explorar a situação de corrida para fazer uma troca tardia de pneus para conquistar esse ponto, ou simplesmente, impedir que o adversário o conquiste.

A corrida do Grande Prémio do Mónaco passa a ter duas paragens na box obrigatórias (ainda com a obrigatoriedade de utilização de dois compostos de pneus em condições de seco) e piloto que não respeite a nova regra sofrerá penalização de 30 segundos.

Por último, menos influente nos desenrolar das corridas, é o aumento das restrições aos testes de carros anteriores (TPC), com as equipas a poderem indicar apenas um carro para TPC e passa a ser proibido testar em circuitos que tenham sido utilizados antes de um prazo de 60 dias.