Diziam que era um diamante em bruto quando o Paços de Ferreira foi contratar Diogo José Teixeira da Silva ao Gondomar. Não era brilhante tecnicamente, mas, quando chegava a hora de colocar a bola no fundo da baliza, era quase infalível. Chegou a marcar um hat-trick num sábado e pelos juniores e outro no domingo pelos juvenis. Aos 16 anos estava a jogar no Paços de Ferreira.

Paulo Fonseca, então treinador dos castores, estreou-o nos seniores a 19 de outubro de 2014, num Paços de Ferreira-Atlético de Reguengos, para a 3.ª eliminatória da Taça de Portugal (4-0). «Com a novidade Diogo Jota no onze, Paulo Fonseca apresentou ao futebol português outro talento emergente. Avançado com apenas 17 anos, foi ele quem assistiu Bruno Moreira para o segundo golo e construiu a jogada do terceiro do Paços de Ferreira, da autoria de Edson Farias. Jota colocaria a cereja no topo do bolo ao fechar o marcador, num remate cheio de pólvora de fora da área», escreveu-se em A BOLA do dia seguinte.

O treinador pacense, no final do jogo, foi claro: «Gostei de todos os jogadores, incluindo o Jota, que ainda é júnior. Marcou um golo e podia ter feito outro.» A escolha de A BOLA para melhor em campo foi óbvia: Diogo Jota.

A estreia na Liga portuguesa ficava para mais tarde. A 20 de fevereiro de 2015, num Paços de Ferreira-V. Guimarães (2-2), substituiu Diogo Rosado ao minuto 83. Pouco tempo em campo, mas influência no segundo golo dos pacenses. «A bola chegou a Diogo Jota, o jovem ganhou a linha e cruzou para Bruno Moreira fazer ligeiro desvio para Edson Farías marcar o 2-2 final», escreveu-se em A BOLA.

Os primeiros golos na Liga surgiram pouco depois, a 17 de maio de 2015, última jornada da Liga 2014/2015, num Paços de Ferreira-Académica (3-2). «Dois golos, um a abrir o marcador e o outro a selar a vitória pacense. O primeiro foi um colosso, com remate colocado a uns 30 metros da baliza. Mas o segundo, de cabeça, a pentear a bola, também foi bonito e, sobretudo, decisivo», analisou-se em A BOLA.

Menos de um ano mais tarde, a 14 de março de 2016, ainda no Paços e agora treinado por Jorge Simão, surge a grande surpresa. Após 11 golos em 27 jogos, assina pelo Atlético Madrid para as cinco temporadas seguintes, por uma verba a rondar os sete milhões de euros. O Paços de Ferreira recebeu 40 por cento, a Gestifute outros 40 e um grupo de empresários os restantes 20 por cento.

O Atlético Madrid, treinado por Diego Simeone e com craques como Koke, Saúl, Yannick Carrasco, Gaitán, Griezmann ou Torres, não parecia ser o clube ideal para a progressão de um jovem de 19 anos e assim, a meio de agosto de 2016, nova surpresa: é emprestado ao FC Porto. Sem realizar qualquer jogo oficial pelos madrilenos.

Na equipa portista, orientada por Nuno Espírito Santo e com jogadores como André Silva, Brahimi, Corona e Soares, começa a fazer a diferença e a mostrar tremendo talento: 38 jogos, 9 golos e 7 assistências. Os pontos altos são o golo ao Leicester na Liga dos Campeões e o hat-trick ao Nacional, na Choupana (4-0). O guarda-redes da equipa insular era o agora sportinguista Rui Silva.

Parte a seguir para a aventura em Inglaterra. De 2017 a 2020 no Wolverhampton (sempre treinado por Nuno Espírito Santo) e de 2020 até 2025 no Liverpool (com Jurgen Klopp e, na última epoca, com Arne Slot). Ajuda os Wolves a vencerem o Championship de 2017/2018 com consequente subida à Premier League. Nos reds ganha quase tudo: Premier League 2024/2025, Taça de Inglaterra 2021/2022 e Taça da Liga inglesa 2021/2022. Perde apenas a Liga dos Campeões 2021/2022, derrotado na final pelo Real Madrid (0-1).

A 14 de novembro de 2019, ainda no Wolverhampton, estreia-se na Seleção Nacional pela mão de Fernando Santos, jogando os últimos sete minutos no lugar de Cristiano Ronaldo. Seguir-se-iam, nos cinco anos e meio seguintes, mais 48 jogos, 14 golos e, sobretudo, duas Ligas das Nações. O primeiro golo surgiu a 5 de setembro de 2020, frente à Croácia (minuto 58: excelente passe na profundidade de Raphael Guerreiro, Jota domina, isola-se e finaliza de pé direito). O último, a 8 de junho de 2024, de novo perante a Seleção croata (minuto 48: foi só encostar, mas encontrou o espaço para fazer o 1-1).

Daqui a dias, o Liverpool regressa aos trabalhos para preparar o ataque ao bicampeonato. Vai ser duro, Arne; vai ser duro, Virgil; vai ser duro, Mohamed; vai ser duro, reds. Vai ser mesmo duro…

Segue-se para Portugal, a partir de setembro, a qualificação para a fase final do Mundial-2026, com jogos frente a Arménia, Hungria e República da Irlanda. Vai ser duro, Cristiano; vai ser duro, Diogo, Bruno, Ruben, Gonçalo, Nuno, António, João,  Bernardo, José, Nélson, Renato, João, Vítor, Pedro, Gonçalo, Francisco, Rafael, Pedro, Rodrigo, Rui. Vai ser duro, Roberto; vai ser duro, Portugal. Vai ser mesmo duro…

O diamante que já não estava em bruto e era agora uma jóia não estará presente.