"Hoje fiz compreender ao Ministério Público que exijo ser arguido, não apenas testemunha. Eu quero ser arguido para falar sobre a questão do suborno da Conoco Phillips", afirmou Xanana Gusmão, presidente do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT).

"Hoje disse ao procurador Matias Soares que exijo ao Ministério Público que me constitua arguido para responder por este caso", disse, citando dois artigos do Código do Processo Penal timorense.

O político timorense falava aos jornalistas depois de ser ouvido na Procuradoria-Geral timorense no âmbito de uma queixa apresentada por Mari Alkatiri, líder do maior partido, a Fretilin, contra membros da Comissão Política do CNRT e deputados do partido.

O ex-Presidente da República chegou ao edifício da PGR ao início da manhã, onde foi recebido com "vivas" e aplausos de um grande número de apoiantes, muitos com camisolas com a imagem do político timorense.

Uma forte presença policial manteve os apoiantes afastados do edifício, com Xanana Gusmão a entrar na PGR acompanhado por outros membros do CNRT.

O caso remonta a meados do ano passado, quando Mari Alkatiri apresentou queixa no Ministério Público contra a Comissão Política Nacional do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), por acusações falsas sobre um alegado suborno.

Essa queixa foi depois ampliada contra outros membros do partido, incluindo deputados do CNRT.

Em causa estão acusações da Comissão Política Nacional (CPN) do CNRT de que Mari Alkatiri, então primeiro-ministro, teria recebido um suborno da empresa petrolífera ConocoPhillips.

O CNRT cita como provas do alegado suborno de 2,5 milhões de dólares documentos da empresa Oceanic Exploration.

Xanana Gusmão insistiu hoje que já tinha escrito ao Ministério Público no início do ano explicando que deveria ser constituído arguido, como máximo responsável do partido e das decisões tomadas, quer pela CPN, quer pelas declarações, feitas sob sua instrução, pelos deputados do CNRT no parlamento.

Em vez de dar seguimento a esse pedido, disse hoje Xanana Gusmão, o Ministério Público continuou a manter apenas como arguidos os membros da CPN e os deputados citados na queixa de Mari Alkatiri.

Numa declaração aos jornalistas sem direito a perguntas, Xanana Gusmão disse que foi hoje à Procuradoria-Geral da República como "testemunha" no caso, mas que voltou a insistir, como já o tinha feito no início deste ano, de que quer ser constituído arguido no caso.

Xanana Gusmão disse que, como líder máximo do partido e presidente da Comissão Política Nacional do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), assumia a responsabilidade pelas decisões emanadas por esse órgão do partido.

Assumia ainda responsabilidades por comentários sobre o mesmo assunto feitos por deputados do CNRT no Parlamento Nacional

Em concreto, referia-se a reuniões da CPN em que se discutiu o que considera terem sido "calúnias" e acusações de "corrupção" que Mari Alkatiri proferiu em publicações no Facebook relativamente a ações de sensibilização e distribuição de apoio alimentar que Xanana Gusmão fez em vários pontos do país, no âmbito da covid-19, em 2020.

Explicou que, nesse encontro da CPN, se chegou a debater apresentar queixa contra Mari Alkatiri por "calúnia" a Xanana Gusmão, tendo depois sido decidido apresentar as acusações por alegada corrupção contra Alkatiri.

"Entreguei comida porque sempre entreguei comida a quem precisa e contei com o apoio de empresários timorenses. Eu não tenho Facebook, mas as empresas sentiram-se revoltados com as calúnias", disse.

"Como o Dr. Mari me acusou de corrupção, dei orientação ao CPN e bancada parlamentar para dar atenção ao Dr. Mari relativamente à suspeita de suborno da Conoco Phillips", explicou.

Xanana Gusmão acusou Alkatiri de repetidos ataques e críticas contra si no Facebook, incluindo comentários recentes feitos na plataforma, nas últimas semanas, e afirmou que como líder máximo do CNRT e da CPN, quer responder pelas declarações feitas sobre a ConnocoPhillips.

"Eu não sou cobarde. Fui em que convoquei, dirigi e fechei a reunião da CPN", disse.

"E quero esclarecer que o caso de suborno é de conhecimento público desde 2005 ou 2006", afirmou.

Xanana Gusmão compareceu hoje na PGR, dando cumprimento a uma notificação do MP, segundo fontes do partido.

Mari Alkatiri já tinha prestado depoimento na PGR no passado dia 18 de janeiro.

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