"Tive ontem [segunda-feira] uma conversa longa com o primeiro-ministro, mas que depois esclareceu que o objetivo da audiência é que me pedia para entregar a pasta que estou a assumir", disse Sara Brites em declarações à Lusa.

"Estas foi as palavras que usou. Para eu a seguir submeter o meu pedido de demissão que vou enviar hoje. O objetivo desse pedido, disse, é que pretendia fazer uma remodelação no Governo", sublinhou.

Sara Brites disse que a decisão de lhe pedir a demissão "não é uma questão de desempenho e é mais política do que desempenho", recordando que foi o próprio primeiro-ministro que lhe pediu para permanecer no executivo aquando da primeira remodelação, em maio de 2020.

"Nunca foi levantada qualquer questão sobre o meu desempenho", afirmou, considerando o pedido de Taur Matan Ruak "inesperado".

Antiga vice-governadora do Banco Central de Timor-Leste (BCTL), Sara Brites foi chamada para o VII Governo minoritário liderado pela Frente de Libertação do Timor-Leste Independente (Fretilin) pelo anterior primeiro-ministro, Mari Alkatiri, ocupando então o mesmo cargo de vice-ministra.

Depois da tomada de posse do atual VIII Governo, Sara Brites manteve-se em funções, assumindo depois o cargo de ministra interina no VIII Governo, liderado por Taur Matan Ruak.

Ainda que no caso do VIII tenha sido apresentada pelo Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), Sara Brites sempre foi considerada uma independente.

Em maio de 2020 o CNRT escreveu a todos os membros que indigitou para o Governo solicitando a sua saída do executivo, dada a decisão do partido abandonar formalmente o Governo, mas Sara Brites acabou por permanecer no cargo até agora.

"Eu decidi permanecer neste Governo em resposta a um pedido por escrito do primeiro-ministro, que solicitou que ficasse até ao final do mandato. Respeitei esse pedido do primeiro-ministro e aceitei ficar. Mas agora pede-me para eu me demitir", explicou hoje à Lusa.

Aos jornalistas, sem avançar detalhes, Taur Matan Ruak confirmou hoje que vai haver uma remodelação a curto prazo, o que considerou "um processo normal" nos governos.

Taur Matan Ruak disse que anunciaria os detalhes aos jornalistas, informando atempadamente "quem sai e quem fica" no Governo.

O pedido a Sara Brites para que se demita do cargo foi idêntico a outros pedidos que o primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, fez a outros membros do Governo, numa remodelação que, segundo fontes do executivo explicaram à Lusa, pretendia abranger vários elementos do executivo.

Outros dos membros que já apresentou o seu pedido de demissão foi o ministro da Justiça, com fontes do executivo a referirem que pedidos de demissão foram ainda solicitados a elementos como o ministro das Obras Públicas, Salvador Pires, e à secretária de Estado da Igualdade e Inclusão, Maria José Fonseca de Jesus.

Todos os elementos são membros do Partido Libertação Popular (PLP), de Taur Matan Ruak.

"A forma como o primeiro-ministro decidiu avançar é pedir a demissão dos membros em vez de exonerar, por considerar que não estão a desempenhar bem o seu trabalho", disse um membro do executivo ouvido pela Lusa.

Em causa estará algum "descontentamento" do primeiro-ministro relativamente ao funcionamento de várias áreas de governação incluindo no setor das infraestruturas, questão que inclui igualmente polémicas em torno ao funcionamento das agências de aprovisionamento e desenvolvimento e do Conselho de Administração do Fundo de Infraestruturas.

As mexidas poderão ser mais amplas e poderão tocar ainda outros membros do executivo, segundo informaram várias fontes ouvidas pela Lusa nos últimos dias.

Inicialmente, e segundo fontes partidárias e membros do Governo ouvidos pela Lusa, Taur Matan Ruak queria mexer em ministros dos três partidos que atualmente estão no executivo: o PLP do próprio primeiro-ministro, a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) e do Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO).

No entanto, o líder da Fretilin, Mari Alkatiri, e o líder do KHUNTO, José Naimori, terão informado o chefe do Governo de que discordavam do timing da remodelação, a cerca de um ano do fim do mandato, que poderia dificultar ainda mais a capacidade de execução do Governo.

A Lusa solicitou já comentários sobre a remodelação ao gabinete do primeiro-ministro e à Presidência do Conselho de Ministros, tendo tentado repetidamente contactar vários dos membros do Governo abrangidos pela remodelação.

 

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