"É melhor concentrarem-se nas eleições porque depois das eleições podem precisar de mim e posso não estar com disposição de diálogos. A minha paciência de ouvir críticas de certas personalidades timorenses também tem limite", disse José Ramos-Horta, em declarações à Lusa.

Ramos-Horta reagia a críticas proferidas pelo primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, num retiro do Governo na sexta-feira durante o qual, segundo participantes ouvidos pela Lusa, o primeiro-ministro criticou o chefe de Estado pela data escolhida para as legislativas.

Vários participantes no encontro, incluindo dois membros do Governo, confirmaram à Lusa que durante a sua intervenção Taur Matan Ruak criticou a data, afirmando que se algo correr mal nas eleições é "responsabilidade do senhor Presidente".

"O facto de não ter reagido às críticas todas que ouvi a meu respeito, durante toda a campanha presidencial - e quando tomei posse fui eu que desci para falar com eles - não quer dizer que a minha capacidade de encaixe dure para sempre", comentou hoje Ramos-Horta.

"Portanto: a eleição está para vir. Concentrem-se na eleição em vez de estarem a criticar os atos do Presidente da República. Porque eu teria e terei muito a dizer sobre os atos do VIII Governo e farei isso no futuro", considerou.

Os dois líderes reuniram-se pela última vez no Palácio Presidencial no passado dia 24 de janeiro, num encontro em que ambos discutiram a questão da marcação da data das eleições legislativas.

Na altura, à saída dessa reunião, Taur Matan Ruak deu garantias de que o Governo está pronto para organizar as próximas eleições legislativas, independentemente de que data o Presidente da República escolhesse.

"A marcação da data das eleições é prerrogativa do senhor presidente depois de ouvir o Governo e os partidos. Da parte do Governo eu garanti que seja qual for a decisão do senhor Presidente, o Governo está pronto para organizar e garantir que as eleições correm bem", afirmou Taur Matan Ruak no Palácio Presidencial.

Taur Matan Ruak partiu depois para visitas oficiais à Austrália, Indonésia e Singapura, regressando a Timor-Leste em 22 de fevereiro, altura em que fez as primeiras críticas públicas ao chefe de Estado.

No aeroporto, à chegada a Díli, Taur Matan Ruak, acusou o Presidente da República de abuso de poder e de prepotência por ter exigido ao chefe do executivo que demitisse o responsável do Serviço Nacional de Inteligência.

"Isto é abuso de poder e prepotência da parte do Presidente da República. Isto não é correto. O Presidente é um órgão que é símbolo nacional. Todos os comportamentos são importantes, e devem ser feitos com cuidado. Não pode ser uma coboiada", afirmou, na altura.

Ramos-Horta, disse Taur Matan Ruak, "pedia ao senhor primeiro-ministro para afastar o diretor do SNI. Se não o fizer, o presidente faria duas coisas: denunciaria o caso a público e pararia os encontros semanais com o primeiro-ministro".

Posteriormente, em declarações aos jornalistas, Taur Matan Ruak voltou a referir-se ao chefe de Estado, afirmando que só iria a encontros com o Presidente quando tivesse "assuntos importantes para discutir", assinalando que estão suspensos os encontros semanais entre os dois líderes.

Desde aí não houve qualquer encontro semanal entre os dois líderes.

"É como ele quiser. Como ele quiser", disse hoje José Ramos-Horta, sobre essa declaração do chefe do Governo.

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