Francisco Guterres Lu-Olo sublinhou ainda a importância de concretizar "iniciativas para aliviar o peso da dívida e o financiamento para o desenvolvimento", e de intensificar esforços para o alcance dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 2030.

"A cooperação e parcerias globais, a nível regional e nacional, são fundamentais para fazer face à ameaça e cruciais para construir um mundo resiliente, sustentável e inclusivo", disse o chefe de Estado numa mensagem à Organização das Nações Unidas (ONU).

Francisco Guterres Lu-Olo falava, em nome de Timor-Leste, numa mensagem gravada em vídeo para a 75.ª Sessão da Assembleia Geral da ONU, que decorre este ano sob o tema de reafirmação do empenho ao multilateralismo.

"No espírito de que ninguém fique para trás, temos de estar atentos aos Países Menos Desenvolvidos (LDC) e além do mais encravados, aos países frágeis e aos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS)", frisou.

Assinalando a natureza 'sui generis' do encontro, que decorre virtualmente devido à pandemia de covid-19, Lu-Olo considerou que deve ser uma oportunidade para avançar num mundo "mais humano, com paz e segurança internacional, num ambiente de relacionamento justo e equilibrado entre todas as nações".

Um desafio que, no caso de Timor-Leste, é "um verdadeiro compromisso", referiu, especialmente no quadro da atual pandemia, homenageando "todos que se encontram na linha da frente" do combate à doença.

Notando o facto de Timor-Leste ter conseguido, para já, evitar o contágio comunitário -- o país teve até agora 27 casos confirmados, todos recuperados --, o Presidente timorense deu conta dos esforços do Governo com medidas de controlo nas fronteiras, quarentena e isolamento e informação à população.

Um esforço feito em parceria com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e parceiros como a China, a Austrália, Cuba, Estados Unidos da América e a União Europeia, que contribuíram com recursos humanos e a doação de equipamentos "necessários para este combate".

Agora, disse, o Governo aposta num Plano de Recuperação Económica, "centrado nas pessoas, que vai reativar a economia nacional, com medidas a curto, médio e longo prazo" e que procura "estancar a perda de empregos e rendimentos".

A marcar a intervenção do chefe de Estado timorense estiveram ainda as questões das alterações climáticas, cujo impacto já se faz sentir em Timor-Leste.

Lu-Olo considerou que o Acordo de Paris sobre as alterações climáticas e os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável "consubstanciam meios e questões incontornáveis no caminho para a reconstrução" dos países.

Importa avançar, advogou, em temas como "o desenvolvimento da agricultura familiar, a utilização racional e planificada de recursos naturais, o combate à poluição e políticas inteligentes de proteção ao ambiente, com o envolvimento dos cidadãos".

No caso Timor-Leste destacou programas de reflorestação em curso e os esforços de combate ao lixo plástico.

No palco internacional, e recordando a importância do apoio internacional para o êxito da independência de Timor-Leste, depois de 24 anos de ocupação indonésia, Lu-Olo defendeu a importação de "negociação e diálogo" para resolver conflitos e disputas e para promover a paz.

E deu o exemplo de Timor-Leste recorrer ao sistema de conciliação da Lei do Mar para resolver disputas fronteiriças com a Austrália, como exemplo a seguir no Mar do Sul da China.

"Preocupa-nos o aumento recente da tensão sobre a disputa marítima no Mar do Sul da China. Com orgulho, afirmo que fomos o primeiro país a utilizar o mecanismo da conciliação compulsória, preconizado pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar", afirmou.

"Apelamos a todas as partes envolvidas para resolverem as suas divergências através do diálogo e negociações, de forma a alcançar uma solução pacífica", sublinhou.

O Presidente timorense pediu o fim do embargo a Cuba, notando o apoio médico do país a Timor-Leste, sublinhou a importância da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e manifestou preocupação pela "violência terrorista que se abate sobre o norte de Moçambique".

Lu-Olo recordou ainda que o Sahara Ocidental continua por concluir o processo de descolonização, pedindo a nomeação de um enviado especial do secretário-geral para "acelerar o processo de negociações entre as partes em conflito e encontrar uma solução que garanta ao povo Saharauí o exercício do direito à autodeterminação".

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