
Nyusi nomeou Adriano Maleiane como novo primeiro-ministro, tirando-o da pasta de ministro da Economia e Finanças e para este pelouro colocou Max Tonela, que era o titular dos Recursos Minerais e Energia.
Carlos Zacarias assumiu a área dos Recursos Minerais e Energia, deixando a presidência do Instituto Nacional de Petróleo (INP), regulador do setor de hidrocarbonetos.
Carlos Mesquita assume agora a pasta de ministro das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos, tendo saído do pelouro da Indústria e Comércio, que passou para Silvino Moreno.
A antiga vice-ministra da Saúde passou a ministra do Mar, Águas Interiores e Pescas
Comentando à Lusa o alcance destas mexidas, Edson Cortez, diretor do Centro de Integridade Pública (CIP), organização da sociedade civil moçambicana, defendeu que Filipe Nyusi "consolida o poder e os seus interesses, porque colocou grandes aliados em pelouros estratégicos".
"Max Tonela foi o financeiro do então candidato Filipe Nyusi na corrida para o primeiro mandato presidencial, em 2014, e entrou com o atual chefe de Estado no Governo, ocupando, primeiro, a pasta de ministro da Indústria e Comércio, depois a de Recursos Minerais e Energia e agora a de Economia e Finanças", assinalou Cortez.
Com Tonela na Economia e Finanças, prosseguiu, Filipe Nyusi controla pessoalmente a governação económica e financeira, mas também o vasto "portfólio" de negócios do Estado, através do setor empresarial do Estado.
"Podemos ter uma maior penetração da família presidencial nos negócios com o Estado, através de Max Tonela, que é um homem de mão de Filipe Nyusi", sublinhou.
O diretor do CIP observou que com Carlos Mesquita nas Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos, o chefe de Estado coloca um "aliado num setor nevrálgico", dado que "gravitam interesses poderosos" à volta do setor.
Carlos Mesquita e Filipe Nyusi tem uma relação antiga, do tempo em que ambos eram gestores da empresa pública Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM).
Também a nova ministra do Mar, Águas Interiores e Pescas, prosseguiu Edson Cortez, "é uma leal ao Presidente da República, porque entrou no executivo pela sua mão".
Assinalando que o primeiro-ministro em Moçambique não chefia o Governo, o diretor do CIP notou que a ascensão de Adriano Maleiane é igualmente uma forma de Filipe Nyusi manter os seus interesses intactos, porque as duas figuras "vêm de setes anos de governo em perfeita sintonia", sobretudo na gestão do escândalo das dívidas ocultas.
As mexidas também têm como "pano de fundo" o congresso da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), agendado para setembro, o processo de eleição do candidato do partido às eleições presidenciais de 2024, dos candidatos nas legislativas e nos governos provinciais e distritais, acrescentou.
"Filipe Nyusi vai chegar ao congresso com o Governo e o partido no ´bolso`, estando em condições de controlar melhor a sua sucessão, já que não se pode recandidatar a um terceiro mandato presidencial", destacou.
Numa análise à recente remodelação governamental, o Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), organização da sociedade civil moçambicana, também defende que Filipe Nyusi consolida o poder e protege melhor os seus interesses, depois de deixar a Presidência da República em 2025.
"Estrategicamente, [Filipe] Nyusi colocou o seu novo aliado e ´super-ministro` na pasta da Economia e Finanças com a missão dissimulada de consolidar as suas finanças, através da facilitação de negócios do Estado para as empresas ligadas direta e/ou indiretamente ao Presidente da República", refere o CDD.
A estratégia com as mudanças no Governo, prossegue, passa por garantir, a todo o custo, uma musculatura financeira para o período pós-poder, que deverá iniciar em 2025.
"Mas também não se pode pôr de lado a hipótese do uso das finanças públicas para financiar um projeto de continuidade no poder, através de uma figura próxima a Filipe Nyusi", lê-se na análise.
O jurista e comentador Paulino Cossa classificou as mexidas de "reposicionamento de pedras visando uma maior eficiência na governação".
"Olhando para as figuras que ocupam pastas estratégicas, pode ler-se que o Presidente opta por quadros que se identificam mais rapidamente com o tipo de impulso que o chefe do Governo pretende para a sua governação", enfatizou Cossa.
Aquele jurista observou que as mudanças também visam dotar o Governo de uma maior capacidade de lidar com uma nova era na cooperação com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que poderá voltar a prestar assistência financeira ao país, e o início da produção de gás natural da bacia do Rovuma.
"As mudanças de fundo na nova remodelação recaem sobre Economia e Finanças e Recursos Minerais e Energia, onde haverá desenvolvimentos importantes nos próximos tempos e o Presidente quis assegurar-se de que os processos vão decorrer sem sobressaltos, colocando quadros à altura dos desafios", sublinhou.
Pelo seu perfil transversal em termos de governação, Adriano Maleiane e Max Tonela têm habilidades para lidar bem como os parceiros e instituições financeiras internacionais e com as multinacionais do setor de petróleo, em consonância com Carlos Zacarias, que "é um homem do setor de hidrocarbonetos", frisou Paulino Cossa.
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