"As agências [de assistência humanitária] não estão a ser capazes de visitar alguns desses lugares. Não podem ir a Ancuabe, a Metuge e a Montepuez", devido à situação de insegurança, afirmou o representante da ACNUR em Moçambique, Samuel Chakwera.

Chakwera avançou que as organizações de assistência humanitária estão a "trabalhar em contra-relógio" para fazer chegar a ajuda às vítimas dos recentes ataques armados no norte do país, contando com entidades locais que já vinham prestando assistência nesses distritos.

Só do distrito de Ancuabe, o primeiro a ser atacado no sul de Cabo Delgado, fugiram 5.600 pessoas, acrescentou.

"Era um dos mais seguros em Cabo Delgado", tendo acolhido cerca de mil famílias vítimas da violência armada no norte da província e implementado um projeto modelo de reassentamento de deslocados de guerra.

Os deslocados de Ancuabe procuraram refúgio nos distritos de Metuge e Montepuez e (embora em menor número) na cidade de Pemba, capital de Cabo Delgado.

O representante do ACNUR em Moçambique apontou que os deslocados precisam de alimentação, água, produtos de higiene, assistência médica e apoio psicossocial, devido às experiências traumáticas que viveram com a ação dos grupos armados, incluindo o testemunho de decapitações.

"É uma situação muito difícil, mas estamos a trabalhar para ajudar essas pessoas", enfatizou Samuel Chakwera.

Mais de 17 mil pessoas, maioritariamente mulheres e crianças, foram forçadas a fugir das suas casas nos distritos de Ancuabe e Chiure, em Cabo Delgado, após os ataques da semana passada, informou a ONU.

Em conferência de imprensa em Nova Iorque, o porta-voz do secretário-geral, Stéphane Dujarric, fez na quinta-feira uma breve atualização sobre a situação em Moçambique após os ataques registados na semana anterior, indicando que, até ao momento, as organizações humanitárias ajudaram mais de 1.700 pessoas, enquanto o serviço aéreo humanitário da ONU continua a transportar suprimentos.

De acordo com Dujarric, desde o início do ano a Organização das Nações Unidas (ONU), juntamente com os seus parceiros, conseguiu chegar a 100.000 pessoas em Cabo Delgado, sendo que 'kits' de alimentação, educação e higiene têm sido distribuídos à população local.

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, disse na quinta-feira que os grupos rebeldes que têm aterrorizado Cabo Delgado estão enfraquecidos e em debandada, justificando assim as incursões dos insurgentes em pontos novos do sul da província.

Testemunhos feitos à Lusa na última semana indicam, pelo menos, nove mortes desde dia 05 de junho, no distrito de Ancuabe, incluindo de líderes comunitários, algumas por decapitação, numa altura em que os residentes se queixam de ainda haver vários desaparecidos.

Num dos ataques foram abatidos seguranças de uma mina de grafite, utilizada a nível global nas novas baterias de automóveis elétricos, enquanto outra empresa mineira do mesmo material suspendeu as operações logísticas pela principal estrada da província.

A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

Há 784 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.

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