No relatório sobre as perspetivas económicas e orçamentais 2023-2027, divulgado hoje, a instituição presidida por Nazaré da Costa Cabral justifica este comportamento com a "persistência de pressões inflacionistas neste período, embora inferiores às observadas em 2022", que "deverão exacerbar a deterioração da confiança dos consumidores, os níveis elevados de incerteza e a erosão do poder de compra".
A "condicionar a situação financeira das famílias", sobretudo dos agregados mais endividados e com menores rendimentos, estará também o aumento das taxas de juro, dada a "elevada prevalência de empréstimos" a taxas variáveis em Portugal.
Adicionalmente, o abrandamento previsto do consumo privado em volume reflete "a dissipação dos níveis de poupança acumulada durante os anos da pandemia ao longo de 2022".
Isto apesar de o Conselho das Finanças Públicas (CFP) antecipar "uma ligeira recuperação na taxa de poupança em 2023", partindo de "níveis estimados historicamente baixos" em 2022, como forma de precaução e refletindo um esperado aumento do rendimento disponível nominal, em resultado do crescimento das remunerações médias por trabalhador.
O CFP estima que, a partir de 2024, o consumo privado inicie uma "trajetória gradual de recuperação", para um crescimento de 0,7%, refletindo a diminuição gradual das pressões inflacionistas e a estabilização das taxas de juro, que deverão contribuir para a recuperação gradual do rendimento real das famílias e para o aumento do nível de confiança dos consumidores.
"No médio prazo, é esperada uma estabilização do crescimento do consumo privado em torno de 1,2%, em paralelo com a convergência gradual da taxa de poupança para valores próximos da média pré-pandemia (6,8%, equivalente à média do período 2014-2019)", avança.
Quanto ao ritmo de crescimento do consumo das administrações públicas, deverá acelerar 0,4 pontos percentuais em volume em 2023, para 2,8%, "em linha com a perspetiva de aumento do emprego público, que deverá aumentar as despesas com pessoal, e com a expectativa de aceleração da despesa líquida em bens e serviços, de acordo com o previsto no Orçamento do Estado para 2023".
Nos anos seguintes, prevê-se uma convergência do ritmo de crescimento do consumo público para 0,7% no médio prazo.
Relativamente à Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), deverá apresentar, em volume, uma desaceleração de 0,4 pontos percentuais em 2023, para 2,3% (2,7% em 2022), refletindo o adiamento de decisões de investimento devido à elevada incerteza, os constrangimentos na oferta que ainda prevalecem, a inflação elevada, o agravamento das condições de financiamento e o abrandamento da procura interna e externa.
A evolução do investimento deverá, contudo, ser "parcialmente suportada pela expectativa de uma aceleração na absorção dos fundos europeus", particularmente os associados ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que sustentarão uma aceleração do crescimento da FBCF total para 4,2% em 2024 e 5,1% em 2025, "ainda que maioritariamente por via da sua componente pública".
No médio prazo, o CFP aponta para uma convergência gradual do ritmo de crescimento da FBCF para 3,2% em 2027.
No que se refere às exportações de bens e serviços, deverão crescer 2,3% em volume em 2023, numa "desaceleração expressiva" de 14,4 pontos percentuais face a 2022 que reflete as perspetivas de abrandamento das economias dos principais parceiros económicos de Portugal.
Já as exportações de serviços, nomeadamente as ligadas às atividades turísticas, que em 2022 já recuperaram, para níveis superiores ao período pré-pandemia, "deverão abrandar o seu ritmo de crescimento em 2023, apesar de ainda prevalecer a expectativa de algum dinamismo neste setor, com a antecipação de eventos como a Jornada Mundial da Juventude no terceiro trimestre".
Em 2024, o CFP projeta uma aceleração do ritmo de crescimento das exportações totais para 3,9%, "consistente com a melhoria do enquadramento internacional e com a retoma da procura externa", convergindo para um crescimento de 3,2% no médio prazo.
Quanto às importações de bens e serviços em volume estima-se um crescimento de 2,3% em 2023, menos 8,7 pontos percentuais face a 2022, sendo que, para 2024 e 2025 antecipa-se uma aceleração para 2,9% e 3,1%, respetivamente, seguido de um abrandamento para 2,9% nos dois anos seguintes.
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