Raquel Jorge, jornalista da Rádio Moçambique, e um neto à sua guarda (uma das crianças protagonistas do vídeo), que assina canais nas redes sociais como Valter Danone, são arrolados num processo movido pela Procuradoria Provincial de Manica.

Respondem ainda em tribunal dois filhos maiores de idade de Raquel Jorge: um que terá filmado as cenas e a mãe de Valter (mas que não tem a guarda da criança).

Em causa está um vídeo que circula nas redes sociais em que duas das crianças se fazem passar por polícias para matar a fome, assustando um condutor (interpretado por outro menor) com multas inventadas, para no final lhe extorquirem dois iogurtes líquidos.

O vídeo foi interpretado pelo Ministério Público como uma "vulgarização" dos agentes reguladores de trânsito e uma "ofensa e banalização" do Estado moçambicano, segundo uma nota do Sindicato Nacional de Jornalistas (SNJ), que considera a acusação "absurda".

Valter Danone, neto da jornalista, tem canais nas redes sociais Instagram e Youtube onde encena com humor temas do quotidiano moçambicano, sendo que o vídeo em causa não consta hoje dos canais, mas está a ser republicado no Facebook.

"Do incrível talento de duas crianças, à absoluta falta de sentido de humor de uma PGR [Procuradoria-Geral da República] desocupada em Manica", escreve Tomás Vieira Mário, ex-presidente do Conselho Superior da Comunicação Social de Moçambique, numa mensagem pública no Facebook com que acompanha o vídeo.

Após duas horas de sessão, o Tribunal Judicial da Cidade de Chimoio interrompeu os trabalhos para criar condições de projeção do vídeo na sala de audiências e encontrar um perito para verificar se uma das crianças estava realmente a conduzir.

Os trabalhos vão ser retomados em 27 de dezembro.

À saída do tribunal, a jornalista e o advogado de defesa da família declinaram comentar a situação.

Em declarações à Lusa, Victor Machirica, jornalista e secretário provincial do SNJ em Manica, considerou "inédito e absurdo" o processo-crime contra a jornalista e a sua família.

"Uma brincadeira acabou em tribunal", precisou Victor Machirica, ao considerar insólito que uma criança seja levada à justiça por encenar a corrupção da polícia de trânsito, uma "realidade nua" nas estradas moçambicanas.

Uma encenação que é um ato de liberdade de expressão, frisou.

"O vídeo não ofende nenhuma lei em Moçambique" sublinhou o dirigente sindical, vincando que "potencia a criatividade, muito incentivada para o desenvolvimento da indústria artística" moçambicana.

AYAC // LFS

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