Antigo presidente do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social Democrata (MSLTP-PSD), Jorge Amado é um dos seis militantes deste partido, que integra a chamada 'nova maioria', no poder, a concorrer às presidenciais do próximo dia 18. O partido decidiu apoiar oficialmente a candidatura de Guilherme Posser da Costa.

Em entrevista à Lusa, Jorge Amado tece críticas à posição do Governo, liderado por Jorge Bom Jesus, presidente do MSLTP, na campanha eleitoral.

"O Governo está a apoiar abertamente um candidato e se ele perde, o Governo estará numa situação difícil porque quando ele apoia um candidato, ele está a mandar uma mensagem de que não estará disponível para trabalhar com qualquer outro presidente eleito", explicou.

"Logo, o presidente que for eleito pedirá ao primeiro-ministro para colocar o lugar à disposição porque não lhe dá confiança", acrescentou Jorge Amado.

O candidato também acredita numa segunda volta destas eleições e defende que uma derrota do candidato Posser da Costa no escrutínio pode "abrir portas para uma crise política" no país e no partido.

"Se Posser da Costa perde estas eleições haverá uma instabilidade, haverá uma crise na governação", disse, defendendo que o partido pode apoiar um candidato, mas "não o Governo e fazê-lo de forma tão aberta".

Jorge Amado identificou como prioritária a "luta cerrada contra a corrupção", que considera "um vírus pior que a covid-19, que mata mais, mata silenciosamente" em São Tomé e Príncipe.

Se for eleito Presidente da República, garantiu, "não haverá pão para maluco nem pente para careca porque a corrupção terá que acabar para que este país para possa crescer", uma vez que, pelas suas contas, "a corrupção consome mais de 50% do Orçamento Geral do Estado".

São Tomé está "numa situação bastante difícil", em particular os jovens, cerca de 70% da população, afetados pela falta de emprego, lamentou, assumindo-se como "alguém capaz de fazer alguma coisa para mudar a situação".

O candidato defendeu que o Governo deve "abrir o país ao investimento estrangeiro" e evitar "afugentar os investidores" com "esse vício de corrupção, de pessoas muitas vezes exigirem 20 a 30%, ou mais, dos custos dos projetos".

Além disso, sustenta que o executivo deve encontrar formas para os cidadãos emigrarem para "mudar de vida, uma vez que internamente não têm muitas possibilidades".

"Todos têm o direito de saírem do país e encontrar emprego lá fora, uma vez que não podemos estar cá todos como se estivéssemos dentro de um garrafão, lutando uns contra os outros porque o Governo não tem alternativas para as pessoas", disse.

"Precisamos ter um país onde a dignidade da pessoa humana está em primeiro lugar", disse Jorge Amado, ex-deputado do MLSTP-PSD que subscreveu uma carta juntamente com outros três deputados da Ação Democrática Independente (ADI, oposição) que levou à demissão e reforma compulsiva pelo parlamento de três juízes conselheiros do Supremo Tribunal de Justiça, incluindo o seu presidente, no governo do ex-primeiro-ministro Patrice Trovoada.

Jorge Amado considerou que a sua figura é de um "cidadão impoluto" e que o seu trabalho são suficientes para levá-lo a cadeira da presidência no dia 18 deste mês.

"O eleitorado de São Tomé e Príncipe conhece Jorge Amado, sabem que Jorge Amado sempre foi aquele que sempre deu o melhor para o desenvolvimento deste país, sempre lutou ao lado do povo, cujo interesse sempre defendeu. Não preciso de muita publicidade para ganhar as eleições", garantiu o candidato.

Sobre o facto de existirem seis candidatos presidenciais do MLSTP, Jorge Amado rejeita que isso possa dividir votos que prejudiquem a sua eleição ao mais alto cargo da nação.

"Fora do meu partido tenho muitas pessoas que gostariam de ver Jorge Amado presidente", referiu, reconhecendo, no entanto: "Dentro do meu partido eu sei que não teria possibilidade de angariar muitos votos", disse, lamentando a "norma estabelecida" pelo MLSTP que "impede os militantes de apoiar os candidatos que não têm apoio expresso do partido".

Mesmo assim, acredita que os votos que o vão levar à eleição no dia 18 "sairão do MLSTP-PSD, do ADI, do PCD, daqueles que não têm partido e daqueles que perderam confiança na política e de todos aqueles que ainda acreditam que é possível mudar São Tomé e Príncipe".

Formado em agronomia e ex-ministro da Agricultura e Pescas, Jorge Amado considera que as instituições do Estado do seu país "perderam credibilidade", pois só assim se justifica tão elevado número de candidatos (19) a concorrerem para ocupar a cadeira presidencial.

O atual Presidente, Evaristo Carvalho, não concorre a um segundo mandato.

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