
"Não vou responder à pergunta", retorquiu Bruno Langa, quando questionado por Filipe Sitoe, causídico que atua em representação da Ordem dos Advogados de Moçambique (OAM), entidade que exerce o papel de assistente e auxiliar do Ministério Público no julgamento do processo das dívidas ocultas.
O Ministério Público acusa Bruno Langa de ter levado ao seu amigo Ndambi Guebuza a proposta de projeto de proteção da Zona Económica Exclusiva da empresa Privinvest para que este influenciasse o pai, Armando Guebuza, a aprovar o documento.
A acusação considera que o documento foi usado como justificação para a mobilização do dinheiro que alimentou as dívidas ocultas.
Na sua segunda e última audição em tribunal, Bruno Langa também negou hoje explicar os trabalhos de consultoria que diz ter prestado à Privinvest para justificar os 8,5 milhões de dólares (7,1 milhões de euros) que admitiu ter recebido durante o depoimento que prestou na quinta-feira.
O arguido não se quis igualmente pronunciar sobre se terá visitado empreendimentos hoteleiros e do setor imobiliário da Privinvest, dado que disse ao tribunal que a remuneração que auferiu corresponde à consultoria que prestou nessas áreas.
Bruno Langa, 44 anos, recusou igualmente prestar esclarecimentos sobre a sua formação e experiência profissional face à consultoria que diz ter prestado à Privinvest, dado que a companhia presta serviços no setor naval.
As questões faziam parte de um rol de 27 colocadas na sessão de hoje pela OAM a Bruno Langa, mas sem resposta: "não vou responder a essa pergunta", referiu o arguido após cada uma delas.
O Ministério Público moçambicano acusa Teófilo Nhangumele, Bruno Langa, Ndambi Guebuza e outros arguidos do caso de terem formado uma associação criminosa e levado o filho mais velho do antigo chefe de Estado a cometer tráfico de influência sobre o pai, convencendo-o a aprovar o projeto de proteção da Zona Económica Exclusiva usado para a mobilização do dinheiro que alimentou o esquema das dívidas ocultas.
Na quinta-feira, Bruno Langa rejeitou essas acusações, insistindo que os depoimentos a si atribuídos na fase de instrução preparatória foram assinados sob coação psicológica.
O Ministério Público acusa os 19 arguidos das dívidas ocultas de se terem associado em "quadrilha" para delapidarem o Estado moçambicano e deixar o país "numa situação económica difícil".
A conduta, prosseguiu, prejudicou o Estado moçambicano em 2,7 mil milhões de dólares (2,28 mil milhões de euros) - valor apontado pelo Ministério Público e superior aos 2,2 milhões de dólares até agora conhecidos no caso - angariados junto de bancos internacionais através de garantias prestadas pelo Governo.
Para o Ministério Público moçambicano, entre os diversos crimes que os arguidos cometeram incluem-se associação para delinquir, tráfico de influência, corrupção passiva para ato ilícito, branqueamento de capitais, peculato, abuso de cargo ou função e falsificação de documentos.
Os empréstimos foram secretamente avalizados pelo Governo da Frelimo, liderado pelo presidente da República à época, Armando Guebuza, sem o conhecimento do parlamento e do Tribunal Administrativo.
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