A terceira edição do Relatório sobre Estatísticas do Trabalho Migrante em África, divulgado esta semana, conclui que apenas 38% dos trabalhadores migrantes no continente entre 2010 e 2019 são mulheres, o que significa que a desigualdade é maior entre os trabalhadores migrantes do que na força de trabalho africana em geral, onde a proporção de mulheres foi de 45% no mesmo período.

Apesar de não ter números específicos de todos os países africanos, o relatório tem dados de 10 países que enviaram dados, entre os quais se encontra Cabo Verde, juntamente com Camarões, Chade, Egito, Libéria, Mali, Namíbia, Níger, Nigéria e Seychelles.

Segundo os dados disponibilizados pelas autoridades cabo-verdianas, as mulheres representam apenas 27,4% da força de trabalho migrante, contra 72,6% de homens.

De entre os 10 países referidos, apenas o Egito tem uma desigualdade de género maior do que a de Cabo Verde, com uma proporção de 14,1% de mulheres entre os trabalhadores migrantes.

Dos restantes, três (Chade, Namíbia e Nigéria) têm uma proporção feminina na força de trabalho migrante maior do que a média africana (38%) e a Nigéria tem mesmo mais mulheres do que homens entre os trabalhadores migrantes (52,8%).

Nas suas conclusões, os autores do estudo admitem que o grande número de mulheres migrantes envolvidas no trabalho informal, em prestação de cuidados não remunerados e no trabalho doméstico podem explicar parcialmente a desigualdade entre homens e mulheres na força de trabalho africana.

Ainda assim, sublinham que o equilíbrio de género entre os trabalhadores migrantes melhorou ligeiramente, de 37% em 2010 para 39% em 2019.

"Isto pode apontar para um crescente número de mulheres a migrar independentemente para trabalhar noutros países africanos", escrevem.

Em termos gerais, o número de migrantes internacionais em África tem aumentado consistentemente, alcançando em 2019 um total de 26,3 milhões, quando em 2010 era de 17,2 milhões.

Embora o número de migrantes internacionais tenha aumentado significativamente nas últimas décadas, a sua proporção na população total do continente tem-se mantido relativamente constante.

Com efeito, os migrantes constituem apenas cerca de 2% da população africana, segundo o relatório.

Dos 26,3 milhões de migrantes internacionais existentes em África em 2019, o estudo diz que 20,2 milhões (77%) estão em idade laboral e, desses, 14,5 milhões estão na força de trabalho.

Dos 14,5 milhões de trabalhadores migrantes em África, os jovens (entre 15 e 35 anos) eram 6,7 milhões em 2019.

A migração laboral que envolve africanos ocorre sobretudo dentro do continente e resulta da perceção da falta de oportunidades de emprego no país de origem e pela abundância (real ou percebida) de oportunidades no país de destino, explica-se no estudo.

FPA // VM

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