"Estou ansiosa" para o desfile de sexta-feira, conta, entre risos, à agência Lusa, Mara Soki, que reside no Rio de Janeiro há oito anos por ter sido reconhecida como refugiada devido à sua orientação sexual e identidade de género.

"Fui convidada e está a correr tudo bem, graças a deus", sublinha a angolana, acrescentando que saiu do país africano para trabalhar num salão de beleza no Rio de Janeiro porque queria melhorar a vida, "ser ouvida de uma forma um pouco diferente".

A sua segurança também foi um fator determinante na mudança, já que, explica a mulher de 42 anos, em Angola há "discriminação com mulher trans, com mulher negra".

"Aqui também tem isso, mas muito menos", garante.

No Rio de Janeiro, depois de a festa ter sido cancelada em 2021, o sambódromo da Sapucaí voltará, na sexta-feira, a ser o palco dos desfiles das principais escolas de samba do país, cujos membros, com as suas fantasias e carros alegóricos, se transformaram numa das imagens mais representativas do Brasil.

O evento, que tradicionalmente acontece entre os meses de fevereiro e março, foi adiado pelas autoridades locais para abril devido à pandemia.

Agora, numa parceria inédita entre o Alto-Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) e a escola de samba Académicos do Salgueiro, nove vezes 'campeã carioca', 20 refugiados da Venezuela, Angola, Marrocos, Síria, e República Democrática do Congo desfilam na sexta-feira no sambódromo da Sapucaí, explicou à Lusa o oficial de comunicação do ACNUR Brasil, Luiz Fernando Godinho.

Famílias, adultos e graúdos ensaiam, desde março, na escola com a comunidade do Salgueiro de forma a estarem preparados para o desfile, que terá início às 20:00 (02:00 de sábado em Lisboa).

Cerca de 75.000 espetadores poderão reunir-se nas arquibancadas do sambódromo, desde que apresentem o certificado de vacinação contra a covid-19.

O objetivo da indicativa promovida pelo ACNUR é a integração destes refugiados selecionados por organizações da sociedade civil parceiras do ACNUR na sociedade brasileira, detalhou aquela agência da ONU, acrescentando que o desfile do Salgueiro tem como samba-enredo deste ano a celebração da "resistência das comunidades afrodescendentes no Rio de Janeiro".

"O nosso enredo fala sobre a resistência preta, e estamos pedindo respeito, valorização e reconhecimento a todas as minorias, o que inclui as pessoas refugiadas. O Brasil é um país que acolhe, e precisa dar oportunidade de crescimento a todos aqueles que chegam por aqui", disse o presidente do Grémio Recreativo Escola de Samba Académicos do Salgueiro, André Vaz, citado no comunicado do ACNUR.

Segundo o ACNUR, no Brasil existem mais de 62 mil refugiados de mais de 50 nacionalidades. Além disso, 150 mil pedidos estão a ser analisados pelo Comité Nacional para os Refugiados.

MIM (CYR) // VM

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