
Os gastos globais com desastres relacionados com clima (p.e., furacões, incêndios florestais, secas e enchentes), desde 2000, ascendem a US$ 18,5 biliões, abrangendo indemnizações de seguros, assistência pública ou governamental, reparações de infraestrutura e falhas de energia. Dos gastos com desastres climáticos em danos materiais desde 2000, 47% referem-se aos Estados Unidos da América (EUA) – devido por exemplo aos furacões Helene, Milton e Katrina, aos incêndios florestais na Califórnia e ascendem atualmente a valores anuais próximos de US$ 1 bilhão – e 32% à Ásia. Nos EUA, os prémios de seguro têm aumentado, 22% em 2023 com estimativas de novo aumento de 6,2% em 2025, incluindo os seguros multiriscos de habitação que contribuem para o aumento do índice de preços no consumidor e por conseguinte da inflação (Bloomberg, The Climate Economy Outlook 2025).
O World Economic Forum (WEF), estima de forma conservadora, e até potencialmente subvalorizada como o próprio assume, os danos diretos causados por eventos climáticos, tais como destruição de infraestruturas, perdas seguradas e impactos económicos imediatos, a nível global desde 2000 em US$ 3,6 biliões. Refere que a inação climática pode ter custos superiores aos das medidas de adaptação e mitigação climática, uma vez que estas permitem em regra recuperar o valor do seu investimento cinco a seis vezes, por redução de perdas e danos de longo prazo, e que empresas que investem em adaptação e resiliência reportam que para cada US$ 1 investido, recuperam entre US$ 2 e US$ 19. O WEF também alerta que se estima que os prémios de seguro para resiliência climática e proteção contra catástrofes naturais aumentem cerca de 50% até 2030 e que seguradoras retirem a cobertura em áreas vulneráveis, o que pode significar que imóveis nessas áreas se tornarão impossíveis de segurar (WEF, The Cost of Inaction: A CEO Guide to Navigating Climate Risk, 2024).
WEF estima que os riscos físicos num cenário de aquecimento global de 3ºC, em 2050, se refletiriam em perdas financeiras em cerca de 15 a 25% do EBITDA em setores como comunicações, utilidades, construção e materiais e de 5 a 10% em setores como alimentos e bebidas, petróleo e gás, saúde e indústrias, enquanto num cenário de aquecimento de apenas 2ºC as perdas seriam respetivamente de até 10% para setores de comunicação e construção e inferiores a 5% em todos os outros. Geograficamente, Ásia-Pacífico, África Subsaariana e América Latina seriam as regiões mais vulneráveis. Temas abordados na Lisbon Sustainability Week, evento anual em Portugal. Diversos casos ilustrativos podem ser apresentados: a Deutsche Bahn teve prejuízo de US$ 1,4 mil milhões por inundações em 2021; a Nestlé sofreu perdas de quase US$ mil milhões devido à seca no Brasil que afetou a produção de café entre 2014 e 2016; e a Pacific Gas & Electric Company faliu por conta de US$ 30 mil milhões em responsabilidades ligadas a incêndios na Califórnia, em 2019.
O risco climático afeta o sector financeiro, via riscos físicos (através do valor dos ativos e a capacidade de pagamento dos tomadores, p.e., em sectores como imobiliário, agrícola e infraestrutura) e de transição (pela exposição a desvalorização de ativos em setores intensivos em carbono). O Banco de Portugal, em 2024, reporta que o crédito bancário está exposto a riscos físicos climáticos: em 70,4% ao stress hídrico, 57,0% ao térmico e 41,5% a incêndios. Do total, 10,7% vai para empresas com alto risco nos três eventos, 7,6% com pelo menos um risco severo, e a maioria em empresas de baixo risco. Em 2025, uma análise da Bloomberg a 17 bancos europeus sobre dados de 2024, revelou quase US$ 160 mil milhões em empréstimos a empresas de oito setores intensivos em água. Adicionalmente , o Banco Central Europeu revela que 34% dos bancos europeus têm Eur 1,3 biliões de ativos expostos a setores com elevada escassez de água.
Os desafios climáticos não apresentam só ameaças, apresentam também oportunidades.
Uma pesquisa do WEF sobre oportunidades relacionadas à adaptação climática revelou que 74% das empresas inquiridas que identificaram oportunidades, com investimento associado de cerca de US$ 7 mil milhões, reportaram um aumento na receita proveniente de soluções de adaptação climática na ordem de US$ 186 mil milhões a US$ 188 mil milhões; das quais 96% são provenientes de soluções que apoiam a preparação e a tomada de decisão sobre riscos climáticos e 30% das empresas reportaram reduções de custos de cerca de US$ 75 mil milhões como resultado da implementação de medidas de eficiência e conservação de recursos nas suas operações e cadeia de valor (WEF, Accelerating Business Action on Climate Change Adaptation, 2023). Empresas que atuam na mitigação dos custos climáticos – como refrigeração, eficiência em IA, gestão de riscos de catástrofes (segurança, engenharia, gestão de riscos e consultoria ambiental e de infraestrutura), recuperação de catástrofes (engenharia e construção) e redução de emissões em petróleo, gás, cimento, aço e alumínio – têm tido performance financeira superior aos seus pares nos últimos 3 anos. A economia do clima, estimada em US$ 12 bilhões até 2050, que abrange investimentos em energia limpa, veículos elétricos, armazenamento de energia, mercados de carbono, hidrogénio verde, infraestrutura hídrica e agricultura resiliente entre outros, redefinirá fluxos globais de capital, mercados de trabalho e cadeias produtivas (Bloomberg, 2025).
Em 2025, muito mudou no espaço Environmental Social and Governance (ESG). A nova administração americana recuou em diversas medidas pró ESG, e inclusive emitiu ordens executivas contrárias, que levou a União Europeia a revisitar a sua posição em matéria de regulação emitindo o pacote Omnibus sobre sustentabilidade que excluiu 80% das empresas do âmbito de aplicação da Diretiva de Reporte Corporativo em Sustentabilidade e adiou prazos. Diversas empresas a nível global recuaram nas suas políticas. Deveriam?
É o ESG um tema regulatório e de compliance, ou um elemento central de preservação e criação de valor empresarial sustentável? O risco climático é risco financeiro. A inação sobre o risco climático compromete rendibilidade, continuidade operacional, valor de ativos e capital humano. Perguntarão: nesse caso só Environmental importa? Será? Não é o Social fundamental para inovação e o Governance para a estratégia e boa execução? Liderança em sustentabilidade não é sobre altruísmo ou compliance, é sobre visão estratégica, resiliência e criação de valor sustentável, é decidir sobre se queremos ser líderes ou vítimas da mudança.