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Enquanto os lobos uivam, os florestais engenham…

Num tempo em que a floresta se vê ameaçada por incêndios, abandono rural e alterações climáticas, é urgente elevar e afirmar o papel dos engenheiros florestais como protagonistas na construção de um território sustentável, resiliente e justo.
Enquanto os lobos uivam, os florestais engenham…

Celebrámos, a 12 de julho, o Dia do Engenheiro Florestal, e não podemos ignorar que esta profissão tem mais de 160 anos de ensino superior em Portugal, desde a criação do curso no Instituto Superior de Agronomia em 1865 — o mais antigo na Península Ibérica. É um percurso académico que moldou gerações de profissionais, profundamente ligados à terra e ao ordenamento das paisagens portuguesas, que se foi consolidando em instituições como a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, a Escola Superior Agrária de Coimbra entre outras, formando profissionais altamente qualificados que operam no setor público, privado e associativo.

A história da engenharia florestal confunde-se com a própria história do país. Já no século XIII, D. Dinis plantava o Pinhal de Leiria, vislumbrando o potencial estratégico da floresta para proteger as culturas agrícolas e suportar a construção naval que viria a impulsionar os Descobrimentos. Séculos depois, Aquilino Ribeiro, na sua obra "Quando os Lobos Uivam", retrata o embate entre políticas florestais do Estado Novo e as populações serranas — um conflito entre o progresso técnico e o apego ao pastoreio, entre o futuro ambiental e a tradição rural.

Hoje, Portugal continua a precisar destes profissionais: não só pelo ordenamento de um terço do território continental, mas também pela capacidade de resposta a riscos extremos, como incêndios, secas e perda de biodiversidade. Com 100% de empregabilidade, a engenharia florestal não é apenas uma carreira segura — é uma profissão de compromisso com o país, com a natureza e com as pessoas.

Nos dias de hoje, é inadmissível que projetos florestais sejam executados sem direção técnica qualificada e sem engenheiros devidamente inscritos na Ordem dos Engenheiros. A floresta não se gere com boas intenções: gere-se com ciência, ética e responsabilidade. Tal como não se concebe um hospital sem médicos reconhecidos, também não se deve conceber um projeto florestal sem engenheiros habilitados, essencial para assegurar responsabilidade técnica, cumprimento de princípios éticos e prestação de serviços especializados com segurança.

Os engenheiros florestais são agentes de ordenamento, de proteção ambiental e de dinamização das economias locais. Plantam no solo certo, com o espaçamento adequado e técnicas precisas — como quem cuida de bebés que um dia hão de crescer e sustentar paisagens, espécies e comunidades.

A floresta portuguesa exige profissionalização, exigência e reconhecimento público. Não é uma profissão silenciosa. É uma profissão estratégica. E é tempo de lhe dar voz, poder e presença nos centros de decisão.

Acredito que escolher engenharia florestal é escolher fazer parte de soluções para Portugal. É cuidar dos ecossistemas, ter uma indústria sustentável, restaurar paisagens e transformar território com ciência, inovação, ética e paixão pela natureza.

Um bem-haja a todos os profissionais da floresta!

Engenheira Florestal

As Crónicas Rurais incidem sobre temas relacionados com o mundo rural, com uma periodicidade semanal. São asseguradas por um grupo de autores relacionados com o setor, que incluem Afonso Bulhão Martins, Cristina Nobre Soares, Filipe Corrêa Figueira, João Madeira, Marisa Costa, Pedro Miguel Santos e Susana Brígido.

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