Como é que este anjo, encontrado por acaso na entrada de um prédio, segurando uma tocha, terá vivido o apagão? Sem a tocha acesa, para que servia ele? No dia do apagão toda a gente percebeu, de repente, que este nosso mundo de hoje fica virado de pernas para o ar quando não há eletricidade.

Há uns anos não haver eletricidade queria dizer que se ficava às escuras quando fosse noite. Agora quer dizer que se fica sem telefone, sem acesso às funções básicas da internet, como os emails, sem poder ver notícias nos sites dos meios de comunicação, sem poder ver um filme ou ouvir um disco em streaming, nem encomendar qualquer coisa para comer num serviço de entregas.

Durante um dia os velhos aparelhos de rádio, a pilhas, esquecidos num canto da casa, foram reis e senhores e quase a única forma de ir sabendo o que se passava. De repente, desejei ter ainda um walkman a pilhas para ouvir uma cassete com as canções de que gosto mais — tinha uma (já não sei onde anda) com os Joy Division, os Smith, Nick Cave, Clash, Doors e Lou Reed. Bem gostava de os ter ouvido nesse dia.

Até a campanha eleitoral em curso teve um apagão, debates foram adiados e os políticos pouco falaram — até porque não tinham quem os ouvisse. Mesmo quando a eletricidade voltou, percebeu-se que, da maneira que as coisas estão, com ou sem eletricidade, os debates já não chegam a tanta gente como dantes. Quando comparados com os números do ano passado, os debates televisivos entre os líderes dos principais partidos registaram uma queda de 13% nas audiências do cabo e de 40% nos canais generalistas.

O problema que motivou esta quebra, este desinteresse, não foi a falta de eletricidade. Foi o facto de a maioria dos debates ser chato e sem assunto que interesse às pessoas. A indiferença aumenta, e isso não é nada bom sinal.

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