Há uma geração que olha para o que consome no dia-a-dia como tudo sendo naturalmente empacotado e acondicionado. Uma visita a um mercado tradicional é uma lufada de ar fresco.

Vejo a pesca como uma coisa solitária, um espaço onde podemos desligar-nos do que se passa à volta e ficar a aguardar o que a água nos pode trazer.

O toldo permitia orientar a sombra, puxando as cordas e fazendo variar o ângulo da lona. É toda uma ciência que agora entra para o rol dos conhecimentos desnecessários. Agora temos de andar a arrastar a espreguiçadeira à volta do chapéu de palhota.

Imaginar-me naquele barco, ali perto do cais, a remar ao longo da amurada, é uma tentação. Um barco assim pode ser um refúgio, um salto fora do quotidiano.

Lisboa é hoje uma terra de mil paladares, de descobertas sem fim. Há bairros, ruas, pracetas, onde parece que estamos numa reunião da sociedade das nações.

Este é um vestido que levanta perguntas e desassossega a imaginação, cumpre na perfeição o papel de agente provocador. Roupa assim funciona na banca de uma feira, não num catálogo de compras online.

Estes super-heróis e estes animais são os guardiões de alguém que os reencontra ao chegar a casa e ao abrir as portadas da janela os vê, vigilantes, no seu horizonte.

Em Portugal, as janelas são muitas vezes tapadas. Tudo serve para quebrar o encanto de uma janela aberta. Noutras paragens, ao passear pelas ruas à noite, sinto a luz que vem das janelas, prova de vida dessas casas.

Van Gogh dizia que insistia em fazer o que ainda não fazia como queria, de maneira a aprender a fazê-lo como deve ser. É esta persistência que me encanta.

Já pensaram o que seria um bosque cheio de mãos assim, despudoradamente acenando para quem passa?

Gosto de ir observando,  ver o que as ruas oferecem. Faço sempre descobertas, andar na rua é ir pesquisando o que está à nossa volta. E há de tudo.

Estes pedaços de ruína no meio da cidade são o sinal do que correu mal na vida de alguém, talvez de uma zanga familiar entre herdeiros que não se entendem.

Não sei o que acontecerá ao interior daquela bela loja, nem como se sentem os vizinhos que ali paravam para dois dedos de conversa...

Até a campanha eleitoral em curso teve um apagão, debates foram adiados e os políticos pouco falaram — até porque não tinham quem os ouvisse.

Para que serve um cêntimo ou dois? Por estes dias fiquei estarrecido: no ano passado Portugal importou 26 milhões de moedas de um cêntimo e 34 milhões de dois cêntimos.

A política não é futebol e transportar a rivalidade desportiva para a política é um mau serviço para o país.

Todos os anos, há 48 mil novos casos de doenças cardíacas provocadas por níveis de stress associados ao ruído.

As campanhas eleitorais são feiras nas quais os líderes partidários parecem modelos na passerelle de uma produção de moda rasca, montadas em manequim de plástico.

Com este comportamento, como se sentirão os eleitores, qual será o peso da abstenção? Cada vez é mais difícil ver a luz.

A principal razão pela qual a Lei Eleitoral não é revista é que assim os maiores partidos garantem a continuidade do seu monopólio de poder.

Para estes políticos, o governo é um carrossel que mandam parar quando se sentem indispostos e Portugal fica aos solavancos.

Para muitos portugueses, viver na cidade é já uma miragem. Desde 2017, Lisboa perdeu 30 mil eleitores para concelhos periféricos, alterando a demografia.

Reparem na cara dos alunos, a descoberta que se desenha nos seus olhos, a informalidade de estarem ali sentados no chão com os monitores a falar-lhes deste quadro.

Da mesma forma que a classe política piorou, também o que hoje muitas vezes se apresenta como liberalismo é apenas uma réplica mal feita da ideia original.