
Além de comer e conversar, o que se pode fazer num restaurante? Olhar em frente é enfadonho, espreitar um espelho é possível mas pouco entusiasmante. Acho que o mais fascinante é colecionar vistas dos tetos.
Gosto de ir sozinho a restaurantes, de ficar a olhar para o que está à minha volta, pensar quem escolheu o que está nas paredes, imaginar o que cada empregado, cada vez mais temporário, acha do espaço onde passa os dias até encontrar nova ocupação.
Quando gosto de um sítio, volto lá com frequência e hoje em dia percebo as diferenças ao fim de pouco tempo — sei logo quando há um empregado novo, o que mudou na lista e por vezes pior ainda, o que mudou na confeção.
Lisboa é hoje uma terra de mil paladares, de descobertas sem fim. Há cozinhas de todo o mundo, ingredientes e temperos até há pouco praticamente ignorados por cá. Caminhando por algumas zonas da cidade, pode percorrer-se o paladar de vários continentes. Há bairros, ruas, pracetas, onde parece que estamos numa reunião da sociedade das nações.
Antes de chegar a lista e a comida que encomendámos, poucas coisas dão mais a imagem da diversidade do que aquilo que está nas paredes e pendurado dos tetos. Quando olho para cima e vejo luzes como estas, sinto-me como se olhasse para um mapa ou folheasse um livro de viagens. Em vez de neons crus ou focos todos iguais uns aos outros, esta explosão de cor contribui para melhorar qualquer refeição.
As cozinhas dos orientes explodiram em Lisboa e são acompanhadas por estas cores fantásticas que nos animam a imaginação e aguçam o paladar. E nos fazem usar o olhar para além dos ecrãs dos telemóveis.
Estratégias de comunicação// Manuel Falcão escreve sempre à sexta-feira, no SAPO