Quando ando por essas ruas fora gosto de  olhar para os prédios, a ver como estão as suas fachadas, que é como se fossem as suas caras. Tenho a convicção de que as janelas são os olhos dos edifícios. E nessas caras as janelas são olhos com dois sentidos: quem está dentro pode ver o que se passa fora e quem está na rua imagina o que se passará lá dentro.

Se não fosse assim, como teria nascido esse fantástico filme que é A Janela Indiscreta? Ao contrário de alguns países, em Portugal as janelas são muitas vezes tapadas — desde portadas opacas a pesados cortinados, passando por estores de várias formas —  tudo serve para quebrar o encanto de uma janela aberta.

Há cidades, sobretudo no norte da Europa, onde passeio pelas ruas à noite e sinto a luz que vem das janelas, prova de vida dessas casas. Por aqui é raro, a janela portuguesa funciona como uma porta que se fecha.

Nalguns sítios ainda há quem coloque flores no parapeito e faça pequenos jardins nas suas janelas e nas varandas que escaparam à fúria das marquises fechadas. Nessas janelas sorridentes, em vez de cortinados, há sardinheiras coloridas e outras flores e plantas que são um sinal de vida. Noutras, sobretudo nas cidades, a natureza é substituída por novelos de cabos das mais variadas origens e gerações que se espalham pelas fachadas como teias de aranha. Mais valia que fossem usados para fazer crescer trepadeiras em torno deles, a conjugação da função eletrónica com uma nova paisagem urbana.

Já imaginaram como todas as ruas seriam melhores se houvesse mais flores e as janelas fossem mais abertas e sorridentes?

Estratégias de comunicação// Manuel Falcão escreve sempre à sexta-feira, no SAPO