Nos últimos anos, Portugal tem-se destacado como um destino atrativo para investimentos em data centers — instalações tecnológicas de alta segurança onde se armazenam, processam e gerem grandes volumes de dados digitais. São o "coração" invisível da internet e das aplicações que usamos todos os dias. Sem data centers, não teríamos acesso a serviços como streaming, redes sociais, comércio eletrónico, cloud computing ou inteligência artificial.
Um dos projetos mais ambiciosos é o da Start Campus, em Sines, que prevê um investimento de 3,5 mil milhões de euros e a criação de até 1.200 empregos diretos altamente qualificados e 8.000 empregos indiretos até 2028. Em Lisboa, a multinacional Equinix está a expandir a sua presença com a construção de um segundo data center, o LS2, num investimento de 50 milhões de euros, que gerará cerca de 30 postos de trabalho diretos e indiretos, também em áreas técnicas e especializadas.
Estes data centers consomem grandes quantidades de eletricidade, sobretudo por dois motivos: o funcionamento contínuo dos servidores, que processam e armazenam enormes volumes de dados, e os sistemas de arrefecimento necessários para manter todos esses equipamentos a funcionar de forma estável. É por isso que a proximidade ao backbone elétrico nacional — a rede de transporte de eletricidade em muito alta tensão — é um fator crítico. Cidades como Vila Nova de Famalicão, Valongo, Aveiro, Coimbra, Setúbal e Sines estão interligadas por esta infraestrutura estratégica. Estar perto destas linhas permite reduzir perdas, aumentar a eficiência e garantir uma maior fiabilidade no fornecimento de energia, essencial para o bom funcionamento de um data center.
É verdade que os data centers consomem muita energia, e é legítimo perguntar se isso poderá fazer subir os preços para os restantes consumidores. No entanto, a sua integração na rede nacional pode — e deve — ser feita com regras bem definidas. Muitos dos novos projetos incluem produção própria de energia renovável ou acordos de compra de eletricidade verde, o que ajuda a aliviar a pressão sobre a rede geral. Além disso, estas infraestruturas exigem melhorias na capacidade e fiabilidade do sistema elétrico nacional, o que beneficia toda a sociedade a médio prazo.
Embora climas mais frios, como os do norte da Europa, ofereçam vantagens naturais no arrefecimento dos equipamentos, Portugal tem outros trunfos que o tornam competitivo. A sua localização geográfica privilegiada, com acesso direto ao Atlântico e proximidade a mercados europeus, africanos e sul-americanos, permite-lhe funcionar como um verdadeiro nó internacional de tráfego de dados. A ligação ao cabo submarino EllaLink — que conecta Portugal ao Brasil — é um exemplo claro de como o país pode ser um ponto de entrada digital para a Europa, com baixa latência e elevada capacidade de transmissão.
Mas o que é que isto traz, na prática, para os portugueses? Além do investimento direto e das receitas fiscais, os data centers criam centenas de empregos qualificados, em áreas como manutenção técnica, engenharia de redes, operações, cibersegurança ou desenvolvimento de software. Estes centros também atraem empresas tecnológicas que querem estar próximas dos dados e da infraestrutura digital — o que pode dinamizar polos de inovação fora dos grandes centros urbanos e fixar talento jovem em Portugal.
Estamos a falar de empregos bem pagos, com futuro, num setor em crescimento. E, mais importante ainda, de um efeito multiplicador que se estende à economia local — desde fornecedores de energia, construção civil especializada, telecomunicações, serviços de catering e limpeza técnica, até empresas de engenharia, consultoria e formação.
Os data centers representam, assim, uma oportunidade estratégica para Portugal. Não são apenas edifícios cheios de servidores — são motores de inovação, âncoras de investimento e plataformas de desenvolvimento económico. Se forem bem planeados e integrados, podem ajudar a tornar o país mais digital, mais competitivo e mais resiliente. E isso, no fim do dia, é uma boa notícia para todos nós.
Economista do Norte