As Pequenas e Médias Empresas (PME) dão ritmo à economia, tanto em Portugal como na Europa. Representam mais de 99% do tecido empresarial, geram dois terços do emprego e são determinantes para a inovação, a coesão territorial e a criação de valor. Em todo o país, do litoral ao interior, são pilares do desenvolvimento económico local. No contexto europeu, desempenham também um papel central na reindustrialização, na transição digital e na afirmação da competitividade global.

Contudo, importa reconhecer que o peso numérico das PME não reflete, por si só, a sua capacidade competitiva ou o seu impacto económico. Portugal e a Alemanha apresentam proporções semelhantes de PME, mas o Mittelstand alemão destaca-se pelo seu contributo nas exportações, pela elevada produtividade e pela forte capacidade de inovação. Em média, as PME alemãs são maiores, mais robustas e mais bem integradas nas cadeias de valor globais.

Este desempenho não é fruto do acaso, mas sim o resultado de uma política pública coerente e sustentada no tempo. A Mittelstandspolitik alemã assenta num sistema articulado de apoio, que inclui financiamento estruturado, formação dual (ligando ensino e empresas), estímulo à inovação e redes locais de suporte, com câmaras de comércio ativamente envolvidas na promoção externa.

Também a Itália oferece um exemplo relevante. Para impulsionar o crescimento das suas PME, criou um segmento específico no mercado de capitais — o AIM Italia (atualmente integrado na Euronext Growth Milan) — concebido para facilitar o acesso das pequenas empresas ao financiamento bolsista. Com regras simplificadas e acompanhamento dedicado, este mercado tornou-se um verdadeiro trampolim para muitas empresas familiares ganharem escala sem perder a sua identidade.

Portugal tem registado progressos significativos. O Banco Português de Fomento, os incentivos à digitalização, a diplomacia económica, os apoios provenientes dos fundos estruturais e a criação da Euronext Access Lisbon representam passos firmes na direção certa.

No entanto, persistem fragilidades que limitam o crescimento e a competitividade das PME: elevados custos de contexto (como o sistema judicial e os licenciamentos), baixa produtividade, fraca capitalização, e dificuldades na internacionalização sustentada. A estas fragilidades somam-se desequilíbrios territoriais: a densidade de empresas varia entre 257,4 empresas/km² na Grande Lisboa, 61,5 na Península de Setúbal, 11,5 no Oeste e Vale do Tejo, 9,5 no Centro e apenas 2,4 no Alentejo, refletindo realidades económicas distintas.

Apesar dos desafios, há PME de excelência em todo o país — familiares, tecnológicas, industriais ou turísticas — que inovam, exportam e geram valor. Muitas foram distinguidas como PME Líder e PME Excelência pelo IAPMEI e Turismo de Portugal, evidenciando boa gestão, solidez e competitividade. Estes exemplos evidenciam o potencial das PME portuguesas para assumirem posições de liderança no panorama nacional e internacional.

As PME são o ritmo da economia. Para que esse ritmo acelere com ambição, inovação e impacto, é essencial garantir um ambiente de negócios favorável ao crescimento sustentável. Isso implica reduzir os custos de contexto, reforçar os instrumentos de capitalização, facilitar o acesso a mercados internacionais e investir em competências orientadas para a criação de valor. Exige também reconhecer e responder às diferenças territoriais, com políticas públicas adaptadas às especificidades regionais.

A força das PME em número já está conquistada; o desafio agora é transformá-las em marcas fortes, inovadoras e bem posicionadas nas cadeias de valor globais.

Presidente da Delegação Regional Centro Alentejo, Ordem dos Economistas. ISCTE. DINÂMIA’CET

O “Quadrado Perfeito” não é só uma análise técnica, feita por quatro economistas de diferentes regiões do país, que se revezam semanalmente, à quarta-feira. É uma narrativa que revela nuances regionais tantas vezes ignoradas para uma compreensão integral da economia.