
Numa altura em que o mundo empresarial acelera a digitalização dos seus modelos operacionais, a cidade andaluza de Málaga acolhe, entre os dias 10 e 12 de junho, o Digital Enterprise Show 2025 (DES2025) — uma das maiores cimeiras globais sobre transformação digital e inovação tecnológica. O evento reúne mais de 17.000 executivos e 500 especialistas internacionais, servindo de palco para um diálogo transversal sobre o impacto da inteligência artificial, os desafios da cibersegurança e os avanços na computação quântica.
O dia inaugural do DES 2025 coincidiu com o Dia de Portugal, oferecendo a Alexandre Nilo Fonseca, presidente da ACEPI – Associação da Economia Digital, uma oportunidade estratégica para posicionar o país como protagonista num novo ciclo de globalização — desta vez digital.
“No século XXI, as pessoas, a inteligência artificial, os centros de dados e os cabos submarinos são os navios, as tripulações e os instrumentos de uma nova globalização digital, tal como as caravelas foram na Era dos Descobrimentos”, afirmou Alexandre Nilo Fonseca. “Os novos exploradores globais são os dados, a inteligência artificial e as pessoas — navegando por cabos de fibra ótica em vez de oceanos, e atracando em centros de dados em vez de portos.”
A metáfora não é apenas poética. Portugal tem reforçado a sua infraestrutura digital com investimentos em cabos submarinos, como o Equiano (da Google) e o EllaLink, e na instalação de centros de dados estratégicos — posicionando-se como porta de entrada tecnológica entre continentes.
A Europa discute o futuro digital
No centro do Digital Business World Congress, um dos pilares do DES2025, estão discussões críticas para o tecido empresarial europeu: desde a transformação dos modelos produtivos por via da inteligência artificial, até à urgência de uma abordagem ética e regulada ao desenvolvimento tecnológico.
Entre os oradores de destaque constam Margaret Mitchell, cofundadora do departamento de Ética em IA da Google e atual diretora da Hugging Face; Jo De Boeck, estratega-chefe do centro de inovação belga IMEC; e Richard Benjamins, CEO da OdiseIA — entidade que se dedica à análise ética do uso da inteligência artificial em contexto empresarial e social.
O DES2025 reflete um ambiente em que as fronteiras entre inovação e risco são cada vez mais ténues. A cibersegurança mantém-se como uma das maiores preocupações globais, impulsionada pela crescente complexidade dos ecossistemas digitais e pela vulnerabilidade de infraestruturas críticas. Em paralelo, a computação quântica, ainda numa fase emergente, é debatida como promessa e desafio, com especialistas a discutir tanto o seu potencial disruptivo como os riscos associados à criptografia tradicional.
Um Portugal mais digital e mais estratégico
A presença de Portugal no evento — através da ACEPI e de múltiplas entidades privadas — reforça a ambição nacional de afirmar-se como hub digital no Atlântico, valorizando simultaneamente a sua posição geográfica e a capacidade técnica da sua nova geração de talentos digitais.
Com uma economia cada vez mais orientada para os serviços, mas com ligações crescentes às cadeias globais de tecnologia e inovação, Portugal surge neste DES2025 não como espetador, mas como cartógrafo de uma nova era — em que os mapas são desenhados por algoritmos e os portos são definidos por data centers.
A nova globalização navega por fios de fibra. E Portugal está a bordo.