A equipa de investigadores, liderada pelo Instituto de Astrofísica de Paris, em França e que integra Alexandre Correia, do Centro de Física da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, mediu "a intensa atividade magnética desta estrela e a obliquidade de um dos planetas, tendo ainda descoberto um segundo planeta no sistema", refere a UC, numa nota enviada hoje à agência Lusa.

"O estudo de planetas em torno de diferentes tipos de estrelas permite estabelecer as possíveis relações entre as propriedades das estrelas e dos planetas em torno delas", sublinham, citados pela UC, os cientistas.

"A maioria dos planetas conhecidos está em órbita de estrelas com idades semelhantes ao Sol, ou seja, com alguns milhares de milhões de anos. No entanto, existem também alguns exoplanetas em torno de estrelas muito mais jovens", afirmam os autores do trabalho, considerando que "o estudo destes planetas jovens permite explorar as propriedades dos sistemas planetários formados recentemente e, dessa forma, compreender melhor os processos físicos que controlam a sua evolução".

Neste contexto, "o sistema planetário AU Microscopii é particularmente interessante. A estrela, com cerca de metade da massa do Sol, tem apenas 22 milhões de anos e está rodeada por um disco de poeira e gás, que é o que ainda sobra do disco "protoplanetário" no qual os planetas se formaram. A juventude desta estrela é caracterizada em particular por um período de rotação muito rápido e uma forte atividade magnética (erupções, forte campo magnético, etc.)", explica Alexandre Correia.

Neste estudo, iniciado em 2019 e publicado na revista científica Astronomy & Astrophysics, os cientistas observaram detalhadamente este sistema planetário utilizando o espectrógrafo SPIRou, um instrumento instalado no observatório Canada-France-Hawaii Telescope.

Estas observações, adianta a UC, possibilitaram "medir o magnetismo da estrela, entender melhor os efeitos que a atividade magnética induz nas medidas espectroscópicas e deduzir uma obliquidade nula para o sistema".

Ao combinar os dados do SPIRou com observações do telescópio espacial TESS, a equipa confirmou que a estrela gira rapidamente em torno de si mesma (em menos de cinco dias) e que apresenta várias protuberâncias por dia na sua superfície, semelhantes às erupções solares, porém, muito mais intensas.

"A correção desses efeitos permitiu melhorar a medição dos parâmetros do planeta que já eram conhecidos neste sistema e também possibilitou a deteção e caracterização de um segundo planeta, que também passa em frente da estrela apresentando trânsitos periódicos. Este segundo planeta do sistema AU Mic é um pouco mais distante e menor do que o primeiro", adiantam os cientistas.

De acordo com os autores do estudo, a configuração do sistema planetário em AU Mic é estável, isto é, "as interações gravitacionais entre os dois planetas não levarão a colisões ou à ejeção de um deles".

Mas "estas interações são bastante fortes e envolvem pequenas variações das suas órbitas ao longo do tempo".

Em síntese, "AU Mic é um sistema chave que permitirá muitos estudos acerca de planetas jovens, das suas atmosferas, interações planeta-planeta e planeta-disco. Os cientistas poderão assim compreender melhor as fases mais recentes da formação dos sistemas planetários durante sua evolução", concluem os investigadores.

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