A Universidade de Évora (UÉ) está a participar num projeto europeu, com financiamento de quase três milhões de euros, que usa a Inteligência Artificial (IA) para travar a desinformação, foi hoje anunciado.

Em comunicado enviado à agência Lusa, a academia alentejana indicou que o projeto, denominado HYBRIDS, visa “criar ferramentas com capacidade para analisar discursos e identificar abusos e desinformação no uso da linguagem”.

“Face à crescente proliferação de desinformação, discurso de ódio e notícias falsas ‘online’, o projeto HYBRIDS surge como resposta urgente”, realçou a UÉ, que participa através do Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades (CIDEHUS).

O projeto HYBRIDS – Intelligence to monitor, promote and analyse transformations in good democracy practices (Inteligência para monitorizar, promover e analisar transformações nas boas práticas democráticas, em português) conta com um orçamento de 2.895.552 euros.

É financiado pela União Europeia e pela UK Research and Innovation (UKRI) e a coordenação está a cargo da Universidade de Santiago de Compostela, em Espanha.

A iniciativa tem, no total, 14 instituições parceiras de seis países, nomeadamente Portugal, Itália, França, Alemanha e Países Baixos, além de Espanha.

Segundo a academia, o projeto “aposta na criação de sistemas de inteligência híbrida, combinando o raciocínio humano com a aprendizagem automática”, com vista a “detetar e combater narrativas falsas que minam as sociedades democráticas”.

O HYBRIDS “está a explorar formas inovadoras de aplicar o processamento de linguagem natural e algoritmos de aprendizagem profunda para analisar grandes volumes de dados textuais, desde ‘posts’ em redes sociais até artigos jornalísticos”, adiantou.

Citado no comunicado, Erik Marino, bolseiro de investigação do projeto HYBRIDS e estudante de doutoramento em História da UÉ, destacou que “a IA é incrível no tratamento da linguagem humana e está a melhorar cada vez mais”.

“Até há alguns anos, toda a leitura de textos e a sua compreensão tinha de ser feita exclusivamente por humanos”, mas, agora, “podemos colocar métodos de IA ao nosso dispor para fazer análises mais profundas e ter um corpus de dados maior”, frisou.

Alertando que “a difusão de teorias da conspiração pode ser extremamente prejudicial e conduzir a resultados dramáticos”, o bolseiro de investigação do projeto considerou necessário o recurso a tecnologias de IA para “proteger as democracias”.

“Especificamente, a minha investigação lida com as chamadas teorias da conspiração de substituição da população, no fundo, todo o tipo de narrativas que afirmam existir um plano onde a população europeia deverá ser substituída por migrantes”, disse.

“Como se tratam de mentiras, treinamos as tecnologias para que compreendam estas narrativas”, sublinhou.

Erik Marino acrescentou que “os sistemas de IA detetam estas narrativas, estudam a sua evolução ao longo dos últimos 30 ou 35 anos e comparam os diferentes contextos”.