O Município da Chamusca inaugurou esta tarde as obras de requalificação do Largo João de Deus, conhecido localmente como Jardim do Coreto. Este espaço emblemático da vila, com 140 anos de existência, renasce agora com nova vida, preservando a alma que o torna especial para várias gerações de chamusquenses. A intervenção, realizada com respeito pelo valor histórico e patrimonial do local, procurou prepará-lo também para os desafios e exigências da vida contemporânea.

A cerimónia de inauguração decorreu integrada na Semana da Ascensão, a maior festa do concelho, e contou com a presença de autarcas, representantes de instituições e numerosas famílias, num ambiente festivo. O evento foi animado pelo Grupo de Danças e Cantares da Chamusca e do Ribatejo e pelos grupos participantes no 35.º Festival de Folclore.

Durante a cerimónia, Paulo Queimado, Presidente da Câmara Municipal da Chamusca, destacou a importância simbólica e afetiva do jardim, sublinhando que “este não é apenas um jardim. É um lugar de encontros, memórias, afetos e tradições. É um pedaço da nossa história comum, que hoje devolvemos à comunidade com orgulho, respeito e sentido de futuro”. Referiu ainda que o Jardim do Coreto “é um património vivo da Chamusca, onde o passado, o presente e o futuro convivem”.

O Jardim do Coreto, inaugurado em 16 de setembro de 1885, está profundamente enraizado na identidade local. O seu nome oficial, Largo João de Deus, presta homenagem ao pedagogo autor da Cartilha Maternal, cuja influência se fez sentir na Chamusca desde o século XIX, quando um professor da vila foi destacado para Lisboa para aprender e aplicar o novo método de ensino. Esta ligação pioneira entre a vila, a educação e o progresso está assim simbolicamente presente no espaço agora renovado.

Com um investimento municipal na ordem dos 150 mil euros, a requalificação representa um passo significativo na revitalização do centro urbano da Chamusca. A intervenção contemplou a modernização da infraestrutura subterrânea, com a melhoria dos eixos viários através da aplicação de materiais mais resistentes, o reforço da drenagem pluvial e a renovação dos sistemas de abastecimento de água e saneamento. Estas medidas garantem não apenas a preservação do espaço, mas também a sua funcionalidade e segurança a longo prazo, num equilíbrio entre a memória e a modernidade.

Entre os trabalhos realizados, destacam-se a reabilitação da calçada portuguesa, com reposição dos padrões tradicionais em basalto e calcário; a substituição de árvores em mau estado e a plantação de jacarandás, que criarão um ambiente mais sombreado e colorido; a criação de uma zona de lazer central, mais acessível, especialmente pensada para as crianças; a recuperação e ampliação das zonas de descanso, com o restauro dos bancos originais e a instalação de novos equipamentos urbanos; a intervenção no coreto, devolvendo-lhe a sua função original como palco de música e cultura; e a limpeza e conservação do Padrão dos Descobrimentos, símbolo do espírito de abertura e universalidade ribatejano.

O Presidente da Câmara frisou que “este jardim já foi palco de serões ao som das filarmónicas, de primeiros namoros, de encontros ao fim da tarde, de passeios com os avós e de brincadeiras de infância. A sua requalificação não apaga nada disso — pelo contrário, enaltece-o. Aqui, o tempo passa, mas a alma permanece”. Acrescentou ainda que esta reconversão “não representa uma rutura com o passado, mas sim a sua valorização. Não apagámos memórias – cuidámos do que herdámos e projetámos com inteligência o futuro”, agradecendo a todos os profissionais envolvidos no projeto, desde técnicos a operacionais, que contribuíram com dedicação e profissionalismo.

Mais do que uma obra, esta requalificação representa um gesto de respeito pela memória coletiva e uma aposta no espaço público enquanto lugar de cidadania, bem-estar e identidade. Na sua mensagem final à comunidade, o Presidente afirmou que “ao devolvermos este espaço à população, afirmamos um princípio essencial: cuidar do espaço público é cuidar de quem ainda não tem voz. Este é um gesto de respeito por quem cá está — e por quem para cá virá. Cuidar do espaço público é cuidar da nossa comunidade. E hoje, neste Largo João de Deus, a Chamusca reafirma essa responsabilidade com orgulho e com amor”.

A tarde prosseguiu com o 35.º Festival de Folclore, um momento de celebração da cultura e tradição da Chamusca e do Ribatejo, em sintonia com o espírito da Semana da Ascensão.