
Face à instabilidade do comércio internacional e às recentes medidas protecionistas dos Estados Unidos, lideradas pelo ex-presidente Donald Trump, o movimento camponês europeu alerta para os riscos da dependência externa e propõe um novo rumo baseado na soberania alimentar. Através de um comunicado da Coordenação Europeia Via Campesina (ECVC), é sublinhada a necessidade de repensar o modelo agrícola europeu, colocando em causa a eficácia dos acordos de livre comércio como resposta à crise atual.
Com os produtores agrícolas a enfrentar sérias dificuldades — tanto pela perda de mercados de exportação como pela concorrência desleal nos mercados internos — a ECVC defende que a ratificação de novos acordos comerciais, como o UE-Mercosul, apenas agravará a situação. Estes acordos perpetuam um modelo de industrialização da agricultura que ignora os impactos sociais, ambientais e sanitários, contribuindo para o desaparecimento da agricultura de pequena escala.
A organização denuncia ainda que a lógica neoliberal do comércio internacional tem gerado crises económicas, ambientais e políticas sucessivas, intensificando a vulnerabilidade da Europa às decisões das grandes potências estrangeiras. No caso concreto da agricultura, a ECVC considera que as medidas norte-americanas não visam travar a globalização, mas antes impor produtos americanos desregulados nos mercados mundiais, comprometendo os padrões de qualidade europeus.
Em contraponto, o movimento camponês defende que a Europa deve investir numa verdadeira autonomia estratégica, baseada na produção local, transição agroecológica, renovação geracional e valorização dos agricultores. A alimentação deve ser tratada como uma prioridade fundamental de segurança, tal como a defesa, sendo essencial para garantir paz e direitos humanos.
Num contexto em que a Europa canaliza recursos para o setor da defesa e abandona objetivos do Pacto Ecológico, a ECVC considera que nenhuma estratégia de segurança será eficaz sem soberania alimentar. O apelo vai no sentido de construir uma frente comum entre sociedade civil e agricultores, para promover um modelo justo, democrático e sustentável.