"Estendo a mão ao 'Hirak' para um diálogo franco pela Argélia", limitou-se a referir Tebboune, ex-apoiante do Presidente deposto Abdelaziz Bouteflika, durante a primeira conferência de imprensa em Argel após a sua vitória nas presidenciais de quinta-feira.

Tebboune, 74 anos, foi eleito na primeira volta das presidenciais com 58,15% dos sufrágios, segundo a Autoridade Nacional das Eleições (Anie).

Segundo esta instância, recentemente criada pelo poder para organizar o escrutínio, a taxa de participação situou-se nos 39,83%, a mais baixa da história dos escrutínios presidenciais pluralistas na Argélia.

Desta forma, menos que quatro em cada dez argelinos optou por comparecer nas urnas para escolher o sucessor de Bouteflika que se mantinha há 20 anos no poder e que apesar de muito debilitado pretendia apresentar-se a um quinto mandato.

Na sua primeira intervenção pública, o Presidente eleito saudou as Forças Armadas e o seu chefe de Estado-Maior, general Ahmed Gaid Salah, que se tem afirmado como o homem forte do país desde a destituição do ex-Presidente em 02 de abril, prometeu prosseguir o combate à corrupção através da "separação definitiva do dinheiro da política" e anunciou uma revisão "profunda" da Constituição que será submetida a "referendo popular".

Na conferência de imprensa, Tebboune recusou responder ao Presidente francês Emmanuel Macron que disse ter "tomado nota" da sua eleição, limitando-se a referir que apenas reconhece o povo argelino, prometeu um executivo renovado "com jovens de 26-27 anos" como ministros e prometeu ainda efetuar uma deslocação por todo o país antes de se deslocar ao estrangeiro.

O futuro chefe de Estado, que na campanha fez 54 promessas, num número que alude ao início da revolta armada independentista contra o domínio colonial francês, prometeu ainda recuperar todo o dinheiro desviado por responsáveis que integravam o círculo de Bouteflika, alguns já condenados.

Tebboune foi demitido por Bouteflika em agosto de 2017, menos de três meses a sua nomeação como primeiro-ministro, após ter criticado os oligarcas próximos do chefe de Estado, em particular o seu irmão Said, definido então como um "Presidente bis".

Said Bouteflika foi condenado em setembro a 15 anos de prisão por conspiração, enquanto diversos oligarcas estão em prisão preventiva ou foram condenados em casos de corrupção.

Esta tarde, e pela 43.ª semana consecutiva, milhares de pessoas voltaram a manifestar-se nas ruas de Argel e em outras zonas do país, e que, segundo analistas citados pela agência noticiosa France-Presse, voltou a contestar as debilidades de um "sistema" esclerosado determinado em permanecer no poder e que ignora a mutação da sociedade argelina.

"Existe a impressão de duas Argélias que vivem em paralelo: uma classe dirigente que organiza eleições e se auto-congratula e uma população que ocupa as ruas" desde fevereiro, considerou a historiadora Karima Dirèche, especialista em Magrebe contemporâneo.

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