"Enviamos duas cartas, uma para a Fretilin [Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente] e outra para o CNRT [Congresso Nacional da Reconstrução Timorense], para tentar reunir com os dois maiores partidos para ver as perspetivas de como podemos ultrapassar esta crise", disse António da Conceição.

"Nos esforços de promover um entendimento, estes contactos servem para ver até que ponto podemos ter a certeza desse entendimento", explicou.

As cartas enviadas à Fretilin, maior bancada no parlamento com 23 e atualmente na oposição, e ao CNRT, da coligação do Governo, são o primeiro passo formal de tentativa de diálogo entre os partidos.

"O que pretendermos é promover esse entendimento com os dois grandes partidos primeiro para podermos ter estabilidade governativa, não ter apenas um Governo para governar, mas um Governo que garanta estabilidade", frisou.

O PD quer evitar a realização de novas eleições antecipadas, por considerar que a "confirmação dos votos já foi dada nas eleições antecipadas" de 2018, com a vitória da coligação Aliança de Mudança para o Progresso (AMP) e a Fretilin a ser a segunda força mais votada, afirmou o responsável.

Conceição explicou que há cartas preparadas para outros partidos com assento parlamentar, especialmente para o Partido Libertação Popular (PLP), do atual primeiro-ministro, mas que o PD vai esperar pelas respostas dos dois grandes antes de enviar as restantes missivas. "Depois iremos aos outros".

Outras fontes do PD ouvidas pela Lusa insistem que uma das questões essenciais do processo é "construir a confiança" deste partido, que sente que a sua dignidade não foi respeitada, especialmente pelo CNRT, aquando da 'expulsão' do PD do V Governo liderado pelo CNRT.

Em causa está encontrar uma solução para a crise política que Timor-Leste vive há vários anos, agravada com o 'chumbo' da proposta de Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2020.

O antigo Presidente timorense José Ramos-Horta tem mantido nos últimos dias vários contactos, em separado, com os principais líderes do país, incluindo o atual chefe de Estado, Francisco Guterres Lu-Olo, o antigo Presidente e líder do CNRT, Xanana Gusmão, o primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, e o secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri.

Em cima da mesa tem estado uma nova possível coligação governativa, liderada pelo CNRT de Xanana Gusmão e que excluiria o PLP, segundo fontes partidárias ouvidas pela Lusa.

Esta possível coligação poderá integrar o PD, o Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO), também da atual coligação do Governo e os três deputados das forças mais pequenas no parlamento, Partido Unidade e Desenvolvimento Democrático (um deputado), Frente Mudança (um) e União Democrática Timorense (um).

Para que essa coligação avance, Lu-Olo teria que recuar na decisão, que mantém desde junho de 2018, de não nomear mais de uma dezena de membros indigitados do executivo, quase todos do CNRT.

A decisão do Presidente ajudou, desde o início do mandato do Governo, a criar instabilidade política, prejudicou a relação entre os parceiros da AMP (CNRT, PLP e KHUNTO), agravando-se depois do 'chumbo' da proposta de Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2020, com abstenções e votos contra de deputados do CNRT.

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